O aniversário de abarca, que se celebra neste número; e o facto de esta ser a 50ª crónica que escrevo aqui no jornal, são o mote para a crónica deste mês (retomarei na próxima edição a análise do papel das mulheres e das mães nas transformações sociais que ocorreram na cidade de Abrantes).
E por que esse facto não é algo que se retenha na memória vou relembrar como e porquê comecei a escrever neste jornal sobre temas abrantinos.
Em 2016, no âmbito do centenário da elevação a cidade, a Câmara Municipal de Abrantes publicou um número do boletim Passos do Concelho em que, muito acertadamente, apresentava um friso histórico com o que seriam 100 acontecimentos marcantes na vida da cidade ao longo desse século.
Foi essa publicação que me levou a escrever a primeira crónica n’abarca. Expressando a minha discordância e até indignação pelo modo como eram tratados os anos 60 e 70 nessa cronologia: uma espécie de crónica do regime; coisas respigadas, sem critério ou coerência de jornais (que não o esqueçamos eram censurados!) e pouco mais.
Antes de publicar a crónica falei com amigos meus que vivem na cidade para tentar perceber que “história” era aquela. De um modo menos expressivo do que eu todos manifestavam um certo desconforto com a publicação, mas sem intenção de tomar qualquer posição pública sobre o assunto.
abarca foi onde encontrei o espaço para dar conta da minha indignação abrantina. Telefonei à Margarida Trincão e questionei-a sobre se o jornal publicaria uma crónica, assim-assim, que até podia não agradar aos poderes da cidade d’Abrantes, etc. Disse-me logo que sim, sem saber sequer o que é que eu ia escrever e sobre quem. É claro que lhe expliquei o que queria escrever e porquê; o que presumia algum comedimento nas palavras. Mas foi bem explícita: a política editorial d’abarca deixa total liberdade de escrita aos seus cronistas (que eu ainda não era!...).
E foi a partir daí que comecei a escrever as crónicas como abrantino. Sobre Abrantes, sobre os abrantinos e as terras e gentes limítrofes. Algumas das crónicas deram-me imenso prazer a escrever: não na perspectiva de mostrar aos deslavados que tentam escrever a história d’Abrantes com apagões ao melhor estilo monopolista, mas sim porque o assunto sobre o qual escrevi, fossem pessoas ou lugares, me disseram muito e acho que disseram muito aos abrantinos que pensam por si e não precisaram de alavancas para fazer o seu caminho.
Estimada Margarida e restante equipa d’abarca: sem vocês eu não teria entrado nesta pequena aventura: obrigado! abarca é desde o primeiro momento, um espaço onde escrevo o que quero e como quero: um espaço assim só tem uma palavra para o definir: a mais bela palavra do dicionário: liberdade (de expressão).
abarca é um espaço livre; onde me sinto livre! Parabéns! Vou-me, com ganas, às próximas 50 crónicas,… Sobre Abrantes, os abrantinos e as memórias locais desses inesquecíveis anos 60 e 70. A ver se “eles” percebem, que houve história para lá das suas malandrices.