A comissária europeia Elisa Ferreira, em entrevista à Antena 1, afirmou que “neste momento é penoso ver que Portugal, com estes anos todos de apoio, ainda está entre os países atrasados”. Apesar da imprensa ter dado algum destaque às declarações da antiga ministra socialista, a mensagem tem os ingredientes suficientes para que muita gente a queira fazer esquecer. O que ela disse, traduzido numa linguagem mais ao gosto popular, é que chega de se viver à custa dos outros. Na verdade, os fundos de coesão que Portugal tem recebido não nasceram de geração espontânea. São o fruto do trabalho de muitos europeus, dos seus impostos e do seu talento. Se se comparar o país antes e depois da adesão à União Europeia, ele é completamente diferente. Os fundos comunitários permitiram que Portugal não seja hoje uma espécie de Albânia dos tempos do socialismo real. A questão, porém, é que continuamos pouco competitivos e habituámo-nos a viver dos quadros comunitários.
Existem múltiplas razões para isso. A pouca formação dos portugueses, tantos dos trabalhadores como dos empresários, uma economia pouco adaptada à competição global ou a necessidade de uma carga fiscal forte para compensar a existência de salários muito baixos e de fraca tributação são razões efectivas para o atraso. Contudo, essas explicações acabam por ter um papel de ocultação do maior obstáculo, e este é de raiz cultural. Essa cultura combina traços muito diferentes, os quais formam uma rede que acaba por tolher a saída de Portugal dos últimos lugares da União Europeia. Salientem-se dois desses traços.
Uma parte substancial da população, educada para isso durante séculos, resignou-se a uma vida estreita e pobre. Fica grata se sobreviver, se não tiver de passar fome. A resignação significa falta de expectativas e de um horizonte largo em que os portugueses possam desenvolver as suas potencialidades e expandir as suas ambições. Por norma, os que não se resignam acabam por emigrar. Um segundo traço diz respeito à falta de rigor e de exigência – isto é, de brio – naquilo que se faz. O problema existe na sociedade e é infundido nas novas gerações através das políticas de educação pública. A ideia de ir mais longe, de superação de obstáculos, de rigor no trabalho não está presente em parte significativa dos portugueses. Enquanto aceitarmos a cultura da resignação e da pouca exigência, continuaremos de mão estendida na Europa e a sobreviver, resignadamente, como um dos seus países mais atrasados.