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19 JUL 2021
OPINIÃO | "Julho, Mês de Comemorações", por Máximo Ferreira
Por Jornal Abarca

Obviamente, comemorar mais um aniversário do nosso jornal é atitude bem agradável, pois, para além do prazer de, em todos os meses, nos trazer novidades e conhecimentos sobre a nossa região, ele nos recorda o exemplo de esforço e determinação de pessoas para quem “mais vale quebrar do que torcer” neste mar de dificuldades que, cada vez mais, se colocam à manutenção regular de um órgão de imprensa escrita. No entanto, neste como noutros meses, muitos são os factos que, a nível regional, nacional ou mundial, merecem ser recordados, uns como exemplo de acontecimentos que não desejaremos ver repetidos, enquanto outros evocam progressos significativos na evolução de conhecimentos que se traduzem (ou podem traduzir) em melhoria da qualidade de vida dos povos, sejam ao nível da alimentação e da saúde, de recursos educativos em geral e, em particular, da ciência que suporta a generalidade dos progressos verificados. É certo não se poder afirmar que, em muitos casos, à evolução de saberes e de tecnologias não se venham associando formas subtis de uma certa “escravatura” de profissionais submetidos à produção e ao uso de meios que fazem crescer grandes projetos, os quais, paulatinamente, se vão apoderando de poderes mundiais.

Podem ser considerados recentes – posteriores ao início do século passado - as mais notáveis descobertas científicas, quer a nível teórico quer em realizações práticas, muitas delas relacionadas com a preocupação de se perceber como e por que razão são como são os astros que conhecemos, como se agrupam as estrelas nos milhões de galáxias que povoam o Universo, como se formam planetas em volta de estrelas ou como terá surgido a vida na Terra. A partir de meados do século passado, aumentou extraordinariamente o número de pessoas dedicadas à investigação em astronomia e astrofísica, bem como a qualidade de recursos tecnológicos ao seu dispor, o que terá contribuído para que, em 1957, fosse lançado o primeiro satélite artificial da Terra, seguindo-se-lhe uma nave tripulada por um ser humano e, pouco depois, a “invasão da Lua” por alguns terrestres. Poucos anos passados (menos de dez) a corrida política iniciou a viragem para a investigação lunar. Sem atmosfera, sem água e sem seres vivos, restava o estudo do solo! Tornava-se cada vez mais real a possibilidade de satisfazer o desejo de saber sobre o passado do nosso planeta, e a Lua seria o primeiro laboratório disponível, fora da Terra. A ideia de que a Lua seria o resultado da “mistura” de material do planeta inicial com o de Theia (um asteroide que chocara com a superfície terrestre) desafiava a recolher amostras lunares e a trazê-las para a Terra, a fim de permitir o seu estudo e a validação de tal hipótese. Os choques entre os pedaços resultantes do embate e o processo de se juntarem (em função da gravidade) terá produzido a fusão de materiais, numa espécie de magma semelhante aos vulcões ainda existentes na Terra. O magma inicial arrefeceria muito mais rapidamente na Lua do que na Terra, por o nosso satélite ser muito mais pequeno e, por possuir menor massa (e, consequentemente, gravidade), a Lua perdeu rapidamente a atmosfera e a capacidade de as rochas superficiais se alterarem ao longo do tempo, como no planeta em que nascemos. Assim, estudar a superfície lunar, era (e é) como que olhar para a Terra como ela era na sua infância!

Em julho de 1969, Neil Armstrong e Edwin Aldrin pousaram no “Mar da Tranquilidade” e recolheram os primeiros vinte quilogramas de rochas e solo lunar (dos cerca de trezentos e oitenta que seriam trazidos por todas as expedições), amostras que, analisadas em terra, revelaram o esperado: no mar de magma que, em certo período, cobria a superfície da Lua, o arrefecimento progressivo originara a formação de cristais diversos (os mesmos que se formaram nas ilhas vulcânicas, como Açores e Madeira), um dos quais (anortite) tem a cor branca. Estes, por serem menos densos, concentraram-se à superfície, enquanto os outros (olivinas e piroxenas) se afundaram.

A queda de asteroides (existentes em grande número e dimensão nos primórdios do sistema solar) na Lua provocou fraturas na camada exterior (anortosito), pelas quais ascenderam magmas que, ao solidificarem, originaram as grandes manchas negras arredondadas a que ainda hoje chamamos mares.

Das habituais sessões de observação do céu (através de telescópios), que o Centro Ciência Viva de Constância promove - aos sábados, das 21:00 às 23.00 – a de 24 de julho ocorrerá em noite de Lua Cheia, ocasião propícia para identificar mares e analisar algumas regiões onde predominam anortites, e basaltos. Na ocasião, os participantes terão oportunidade de contemplar dois pedaços de rocha (basalto “recente” dos Açores, formada há cerca de 1 milhão de anos, e anortosito, obtido na região de Campo Maior, com idade próxima de 350 milhões de anos) semelhantes aos observados na Lua, ali, a apenas 370 mil quilómetros de distância!

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