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02 AGO 2021
CENSOS 2021 | Continua a sangria populacional da região
Por Manuel Fernandes Vicente

Todos os municípios da região de abrangência preferencial de abarca perderam habitantes nos últimos dez anos. A constatação dessa realidade acaba de ser revelada pelos resultados preliminares do Censos 2021, divulgados agora pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), e mostra o acentuar da tendência de declínio populacional da região que, inexoravelmente, já pertence ao Interior do país, com todos os estigmas que esse anátema proclama. Mesmo o Entroncamento, município que habitualmente resistia a este plano inclinado que já desde a década de 1960 tem condenado boa parte da população do Interior do país, atraindo-a para o litoral, sofreu uma diminuição da sua população comparada com a de há dez anos, e deixou de ser o baluarte de resistência da região.

Em relação a 2011, e dentro do perímetro editorial prioritário de abarca, o censo geral da população e da habitação deste ano mostra que Gavião é o município que vê uma maior queda percentual da sua população, com uma redução para 3 398 habitantes, ou seja menos 17,8 por cento de pessoas. Mas o declínio da população atinge também severamente os concelhos da Chamusca (8 536 habitantes, menos 15,7% que em 2011), Abrantes (34 351 habitantes, menos 12,6%), Mação (6417 habitantes, menos 12,6%), Sardoal (3 526 habitantes, menos 10,5%), Tomar (36 444, menos 10,4%) e Alcanena (12478 habitantes, menos 10%).

Com baixas percentuais mais reduzidas, mas que mesmo assim acentuam o declínio geral que já se tinha verificado nos últimos decénios, vêm os municípios de Vila Nova da Barquinha (7 035 habitantes, menos 3,9%), Vila de Rei (3 276, menos 5,1%), Constância (3 801, menos 6,3%), Torres Novas (34 149, menos 7%) e Golegã (5 400, menos 8,7%). O Entroncamento, fundado com a criação dos caminhos de ferro em meados do século XIX e que até a este último censo sempre cresceu populacionalmente, vê agora a sua população baixar para 20 140 pessoas, menos 0,3% do que há dez anos.

De resto, o despovoamento da nossa região acompanha o de cinco sextos dos municípios do país. Dos 308 concelhos portugueses, apenas 51 têm uma evolução populacional positiva - e a esmagadora maioria deles está no litoral, no Algarve e nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. As razões são múltiplas, graves, antigas e profundas. Não criando condições atrativas e discriminações positivas e estimulantes para o Interior do país (que, por ironia, já está a chegar cada vez mais perto do mar) e não alimentando nele a fixação de empresas, não haverá emprego, e sem empregos (nem os mil serviços de educação, saúde, bancários, de correios e cívicos que, entretanto, já foram extintos) não há território que resista. Bem podem criar as Unidades de Missão para a Valorização do Interior que quiserem e elaborar os Programas Nacionais para a Coesão Territorial que entenderem, que vai sempre ser assim. Quando o dinheiro chega da Europa, a tendência vai ser igual e a ideia é continuar a apostar no litoral, onde há pessoas (já talvez a mais, e muitos votos que convém contentar). Com o novo programa de recuperação e resiliência da Europa a narrativa vai ser a mesma, e o Interior, sem gente e cada vez menos votos, vai continuar a perder pessoas, jovens, empregos, empresas e investimentos. Os nossos deputados, que são cada vez menos, vão assobiar para o lado com estes números, e os autarcas vão fazendo e gerindo o que podem, que é cada vez menos. É duro, mas a verdade é quase sempre assim. O litoral tem lá um íman, e os investimentos hão-de seguir sempre atrás da magia desse magnetismo.

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