Estudar a evolução política e económica na América Latina levanta sempre imensas questões. É uma região que tarda em concretizar o seu potencial, quer no campo político quer na economia. A crónica desigualdade social, a maior do mundo, é um claro exemplo disso. E, mesmo recentemente, as recentes manifestações em Cuba são uma evidência desse constante fracasso. A América Latina é uma região onde a tensão está sempre latente. Desta vez foram os cubanos, mas brevemente poderão ser outros.
Apesar da sua grande heterogeneidade, é uma região onde praticamente todos os modelos de sistema político ou de modelo económico já foram experimentados e, contudo, parece que, em geral, nenhum funciona. A história tem muito a dizer sobre a incapacidade que existe para os países da região em avançarem no desenvolvimento do seu potencial e de não conseguirem mitigar a tensão sempre latente.
A maior parte da América Latina conseguiu emancipar-se das potências coloniais bastante cedo, durante a primeira metade do século XIX. Contudo, os governos da região nunca foram verdadeiramente autónomos para prosseguirem políticas internas ou externas adequadas às necessidades dos seus cidadãos. Por exemplo, logo na segunda metade do século XIX, a Argentina tornou-se quase num protectorado britânico e a América Central, sob a implementação da Doutrina Monroe, tornou-se no “quintal americano”.
Desde então, a evolução política na região sempre foi orquestrada externamente para satisfazer os interesses económicos, políticos ou geopolíticos das grandes potências na região. Isso foi claramente visível com o apoio da CIA ao golpe que derrubou o presidente chileno Salvador Allende. Em resultado disso, a confiança dos latino-americanos nas suas instituições políticas é cada vez menor. Já não existem certezas entre a grande maioria dos cidadãos de que as suas instituições políticas, mesmo sendo democráticas, poderão resolver os problemas existentes. Em resultado disso, entre tantos escândalos de corrupção, entre constantes ciclos de crescimento económico repentino e colapso súbito ou entre a captura do Estado por elites, o sistema político tradicional aproxima-se da ruptura devido ao cada vez mais frequente surgimento de líderes populistas com promessas (mas poucas soluções) para os problemas nacionais.