Estimados leitores é com a certeza absurda que vos falo neste mês de contrastes: se por um lado vibrei de orgulho quando vi Ronaldo a trocar a água pela coca-cola, por outro enfureci-me quando recebi notícias do outro lado do mundo sobre o número crescente de pessoas que morrem e sofrem ainda mais por causa da falta de água. O vírus veio agravar mais esta situação. E enquanto dezenas de países africanos sofrem com a falta de água potável, assim como muitas pessoas pobres em vários países do mundo, eu assisti às cheias repentinas que grassaram as ruas da Bélgica por estes dias. Muitos belgas perderam tudo, outros no meio da confusão morreram, o mesmo se passou na Alemanha e em outros países europeus.
A verdade é que depois de fazer esta reflexão sobre a água que pode matar, purificar ou salvar fiquei profundamente deprimida.
A água que cobre 70 por cento do planeta azul é de facto a razão porque billiões de pessoas sofrem e morrem. Se pensarmos nisto e se pensarmos bem sobre a humanidade parece que somos uma espécie de cigarra que morre à sede no meio do rio, ou talvez sejamos de facto tão egoístas que não nos incomode mais a ideia que milhões de pessoas morram por causa de qualquer coisa que nós tenhamos acesso a uns passos da nossa torneira de casa ou de qualquer espaco público.
Somos capazes de mandar turistas ao espaço mas não temos quem queira destilar água ou quem ofereça as suas capacidades cognitivas para poder subtrair agua potável de lagos subterräneos, temos computadores, telemóveis, nano chips e coabitamos no mesmo planeta azul com a certeza que os mesmos da nossa espécie não podem beber, não se podem lavar ou que morram depois de apanhar um qualquer micro organismo na água até então desconhecido. Onde está agora a curiosidade científica?
Mas o que é mais assustador agora, é o que está acontecer em países como Singapura ou como na Austrália, a água está a começar a ganhar um valor superior ao do dinheiro e de outros bens como o ouro, novas transações e novos negócios são feitos através de billiões de litros de água potável.
Talvez as memórias que temos das nossas avós a lavarem nas ribeiras ou nos tanques se tornem ainda mais queridas, talvez a memória de termos visto os nossos familiares carregarem um bidão ou um garrafão de água também se transforme numa precisosa memória, porque talvez os nossos netos ou bisnetos venham a morrer por causa da falta de água.
Desculpem pelo tom seco da crónica, mas acho que toda a frescura da minha alma terminou com esta conclusão.