Entre as várias características da revista “TIME”, realça-se as suas capas quase sempre icónicas. E porquê? Pelas suas imagens fortes, duras, por vezes, perturbadoras e intemporais.
Em 2010 Aisha, uma jovem afegã com dezoito anos “teve honras” de capa na “TIME” pelos motivos mais desprezíveis: o seu rosto bonito surge mutilado, ou seja, com um buraco cicatrizado na zona do nariz. Também não tem orelhas. Contudo, não se dá pela sua “ausência” pois um véu cobre-lhe a cabeça.
Mas o que fez Aisha para sofrer tal mutilação? Simplesmente fugiu de casa cansada da pancada do marido e sogros. Quando foi apanhada pelos familiares, o cunhado segurou-a e o marido cortou-lhe o nariz e as orelhas. Seguidamente, para cumprir a tradição, abandonaram-na na montanha para aí se esvair em sangue e morrer. Tal não aconteceu, Aisha foi encontrada, levada para um abrigo secreto em Cabul e, posteriormente, para os Estados Unidos da América com a colaboração da ONG “Mulheres pelas Mulheres Afegãs”, onde se submeteu a várias reconstruções cirúrgicas/estéticas. À data destes factos os americanos controlavam Cabul e perguntava-se: “O que acontece se saírem do Afeganistão?”.
Matiullah Turab é um dos poetas afegãos mais famosos que aproveita a sua poesia oral para dar voz aos afegãos e, por isso, constrói a poesia na sua cabeça. Quase analfabeto, com dificuldade em escrever e ler a escrita dos outros mas reconhecido talento, numa entrevista a um jornalista do “New York Times”, terá poetizado oralmente que “o trabalho de um poeta não é escrever sobre o amor.O trabalho do poeta não é escrever sobre flores. Um poeta deve escrever sobre o sofrimento e a dor das pessoas.” Mas pergunto: “Será que este povo conhece outros estados de alma para além do sofrimento e da dor?
O Afeganistão não é o país dos talibãs rupestres das montanhas de metralhadora na mão, com uma visão ultra-ortodoxa da lei islâmica que afirma que “irá respeitar os direitos humanos mas de acordo com os valores islâmicos”
O Afeganistão é um país de montanhas deslumbrantes que num passado longínquo (parece recuar a 200aC?), localizou-se na Rota da Seda e quase todos lhe “foram ao pote”: chineses, ingleses, russos, americanos, entre outros.
Porque o Afeganistão tem muitas tribos/etnias, os exércitos não constroem nações/estados e não houve nem há vontade política e moral, a história vai repetir-se. As “Aishas” vão emergir. Já emergiram.
Acabo de escutar na radio que ocorreram duas explosões em Cabul. Talibãs e Estado Islâmico a disputar território. Talibãs não vão conseguir assegurar segurança e, posteriormente, gerar empregos e fazer circular a economia. Alguém já está na fila.
Uma guerra civil era tudo o que não queríamos.
De Mutillah Turab :
“A guerra se transformou em comércio
Cabeças foram vendidas
como se tivessem o peso do algodão
e na escala sentam-se tais juízes
que sentem o gosto do sangue,
e então decidem o preço.”