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23 SET 2021
OPINIÃO | "Sem Sucessores? O Caos?", por Estêvão de Moura
Por Jornal Abarca

Na última crónica discorremos sobre os problemas da gestão em Portugal que, no essencial, ainda não conseguiu libertar-se dos padrões implementados a partir dos anos 60 do século XX (no Grupo CUF –a mais importante “escola” prática de gestão do país, mas que se revelou incapaz de evoluir para fazer face a novos desafios de mercado, sociais e empresariais; atenção que estou a referir-me a padrões de gestão científica e não ao grupo económico em si).

No decurso da minha vida profissional tive oportunidade de, em vários momentos, ter privado com gestores dessa linha de gestão. O seu traço mais comum era a incapacidade para mostrar capacidade para assumir novos conceitos de gestão e novas abordagens aos problemas. Uma confusão das grandes.

O problema surgido com o ex-presidente do Benfica levanta uma questão em termos de gestão muito interessante. E não só, mas também, por que idêntica situação se verificou no BES, no BPN, no BANIF e em tantas outras crises empresariais que se verificaram em Portugal, sem que ninguém tenha feito nada para evitar essa situação.

Os problemas surgidos nas organizações que citámos (e em muitas outras, deste ponto de vista) podem ser vistos sob múltiplos ângulos. Mas há um que nos interessa particularmente, que é o da sucessão dos dirigentes que estão à frente das organizações quando estala a crise e que parecem ser simultaneamente a origem da crise e da sua ultrapassagem (pelo menos até um determinado momento em que se entra numa escalada sem retorno que, inevitavelmente, como mostra a maioria dos casos práticos com estas característica, arrastará consigo o líder que se recusa a sair do posto e a organização que este diz defender até aos seus últimos suspiros).

Esta questão da sucessão dos dirigentes nas organizações de trabalho estuda-se (quer dizer estuda-se, mas não em Portugal onde tal matéria é pura e simplesmente relegada para debaixo do tapete nas escolas de Gestão e nas universidades, sem que se perceba porquê -ou talvez se perceba, mas essa é uma outra história que não cabe nesta crónica!) numa área da gestão científica designada por “Planeamento da Sucessão” (Sucession Planning) na designação anglo-saxónica, expressão aqui usada apenas para fixar o conceito) -

Em comum os casos do Benfica, do BES, do BPN, do BANIF e de muitos outros tiveram o facto de os seus principais dirigentes se terem mantido no poder durante muito tempo, sem grandes escrutínios ou controlo(s) e até uma idade em que, em termos de gestão científica o aconselhável teria sido que, pelo menos uma década antes do desencadear da crise a organização que lideravam tivesse dado início a um processo de planeamento da sua sucessão a concretizar, por exemplo, num prazo máximo de entre três a cinco anos.

Esta coisa de os dirigentes da organizações acharem que se se eternizarem no poder tudo correrá melhor para as organizações que lideram tem saído cara aos portugueses. Tanto em termos financeiros, como de imagem e tem deixado de rastos a gestão e os gestores portugueses.

O que está a acontecer em Portugal nas organizações que se vêem confrontadas com crises que, na sua maioria, têm levado as organizações ao colapso é algo a que as elites económicas e empresariais deveriam dar mais atenção. Há um tempo para tudo: na vida como na gestão: os cemitérios estão cheios de pessoas providenciais. Todos sabemos isso. Na gestão, em Portugal, continua-se a acreditar que não!

Não, não é verdade que não existam sucessores à altura de substituir quem se quer eternizar como dirigente nas organizações. Como não o é que após a saída desses dirigentes aí venha o caos. É precisamente o oposto que tem acontecido.

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