Não. Desta vez não foi a praia, nem o feriado, nem a “ponte”, nem as férias. Foi um domingo solarengo como tantos outros, temperatura convidativa a café na esplanada – eu até comi um gelado, mas a malta mais uma vez, não lhe apeteceu fazer cruzinhas. Dito de outra forma, o povo português apostou, novamente, na abstenção recusando-se a participar na eleição daqueles que lhe são mais próximos.
As conclusões são as óbvias e sobejamente conhecidas. Contudo, nesta semana pós eleições, também faz parte do cenário repetir o lamento, comentar o desastre do número elevado (veja-se que eu própria não resisti) e daqui a dois dias saudamos o mês de Outubro, comemos as primeiras castanhas assadas e esquecemos o divórcio entre a sociedade e a política.
Para quem a primeira cadeira de Ciência Política foi “amor à primeira”, entristece-se sobretudo com o afastamento das gerações mais novas. Presentemente os partidos assentam no binómio: cansaço e falta de renovação.
Uns estão cansados das promessas por incumprir. Atente-se nesta última campanha no partido governante que vestiu o dress code (traje) das legislativas. Desde pontes a maternidades, jorrou tudo.
Os outros não se identificam em partidos que não se renovam e quando o fazem sobretudo, localmente, os critérios selectivos têm natureza biológica, ou seja, sobrelevam laços de sangue.
Há câmaras que mais parecem dinastias. Atenção, este comentário serve para todos os partidos que se perpetuam no poder, numa arrogância que não escuta oposições porque não pensa como eles. Esta arrogância não deixa de ser uma forma de ignorância pois desconhece, precisamente, os traços característicos do regime que permite a liberdade de nos aliarmos com quem quisermos: cultura democrática/liberdade política.
As renovações/rotatividades são necessárias para não se manterem dependências bafientas que assentam em pilares culturais. Nós, os sulistas, somos assim. Sempre à espera que pingue e de preferência protegidos pelo chapéu de chuva de alguém.
Estas “dinastias” são constituídas pelos mencionados laços de sangue e “círculos cinzentos de clientes” cuja soma só pode resultar em abstencionismo. E quer as dinastias, quer o clientelismo, são comentados “à boca cheia e de dedo indicador esticado” nos cafés, nos jantares com os amigos, reuniões, encontros de esquina e escutados, por mero acaso, numa fila de supermercado ou numa bica que, por mero acaso, se bebeu num café que nem temos o hábito de entrar. Porém, quando também por mero acaso vemos estes “formatos” cruzarem-se, eis que num toque mágico, descobrimos que afinal são “amigos” e não dão beijinho porque a máscara (por enquanto) não permite. Hipocrisia democrática, será? Mas como canta o Herman “dá cá um beijinho e depois dá outro” pois pode haver um “entretanto”. Nunca se sabe quando precisamos. Ou os nossos.