No final da II Guerra Mundial, os EUA eram o único país envolvido na Guerra que não tinha sofrido qualquer destruição material do seu território, ao contrário dos restantes beligerantes. Para além disso, e mesmo com o esforço económico de guerra, essa posição privilegiada permitiu aos EUA enriquecerem imenso, o que lhes conferiu as condições para fazer valer os seus interesses nacionais e facilmente disseminar a sua hegemonia a uma escala global. Contudo, os governantes americanos da época implantaram esta supremacia, sabiamente, não de uma forma impositiva e unilateral, mas através da criação, juntamente com os governos nacionais à data, de uma arquitectura global político-económica assente na cooperação, que protegia os interesses americanos no mundo mas ainda assim oferecia benefícios para todos. Foi assim que foi criado o Sistema das Nações Unidas, com todas as organizações internacionais que conhecemos hoje.
Nos últimos 30 anos a China registou um desenvolvimento económico como nenhum outro país na história conseguiu alcançar. Essa ascensão permitiu à China adquirir o seu lugar, por direito histórico, no pódio das grandes potências. Mas essa ascensão permite também à China o poder para questionar a arquitectura internacional criada pelas potências ocidentais e definir uma estratégia de crescimento que confronta directamente com os interesses americanos. Esta ascensão chinesa tornou um eventual confronto militar com a China numa obsessão ocidental que se reveste de fricções políticas, económicas, mas também culturais. Os EUA não se podem dar ao luxo de serem ultrapassados por um país comunista, mesmo que este utilize mecanismos capitalistas para estimular a economia.
Os chineses, como muitos povos orientais, imprimem um cunho cultural e mental muito próprio na sua forma de fazer política. É muito difícil dizer que a China quer a guerra, mas para os ocidentais, a guerra, ou pelo menos o conflito, é parte inerente da sua cultura. Vemos isso nas relações sociais, nas relações laborais ou na política. A europa regista o maior número de conflitos armados na história em relação a qualquer outra região do mundo e, mesmo na cultura americana, baseada na rivalidade e competição, não há espaço para tolerar a concorrência. Contudo, tal como os americanos fizeram no pós-Guerra, hoje também os EUA poderiam conter a China através da cooperação e da inclusão da China no fortalecimento das bases que sustentam a arquitectura internacional. Isso já foi tentado, mas a cooperação que os EUA querem não é a mesma que a China quer.
No fundo, os EUA venceram a União Soviética e contiveram o Japão no jogo pelo domínio mundial. Agora, estão confiantes que farão o mesmo com a China.