Sinto falta do caderno preto de capa rija que continua a acompanhar-me para todo o lado. Do meio para a frente as folhas estão imaculadas, sem vida, sem expressão.
De vez em quando lá me esqueço da caneta de ponta fina e tento sossegar com uma bica. Encho o peito de ar e peço uma caneta emprestada, mas não é a mesma coisa. Mesmo que o tempo possa esperar por mim, eu não consigo corresponder.
Acho sempre que preciso de outro café, porque o dia vai tocar a noite e quando chego ao meu destino já é quase outro dia. O caderno continua vazio de memórias futuras e é tarde demais para a reciprocidade de um beijo ou de um abraço.
Já tenho idade para ter juízo e perceber que a vida é demasiado curta para ser pequena. Eu nunca me acomodei ao possível, insisto sempre em fazer o meu melhor na condição que tenho e, infelizmente, isso está a destruir-me...
Caramba, não pode ser tudo tão sofrido e medicamentoso!
Quero continuar a ver os patos a atravessar a avenida, a conseguir segurar a caneta e escrever coisas bonitas. Hoje vou pôr o rímel preto e vou ver se aquele blazer ainda está na montra à minha espera.
Se não tiver, visto o blusão de cabedal preto e ainda vou encher de orgulho a Professora Ludumila.