Gosto de alguns rituais. Nesta quadra, entre outros, gosto de fazer o presépio. Por isso, não me peçam para dizer que a cidade está linda com enfeites de romaria e renas. Tal como disse a alguém “e sendo romaria teria que ser a sul porque a norte a fasquia é bem mais elevada”.
Como não sou médica terei alguma capacidade de resiliência (será que vai ser a palavra do ano???), que me permite resistir à pressão dos enfeites de Natal sem qualquer alusão ao nascimento Daquele que, afinal, nos faz andar “numa fona” até ao próximo dia 25 de Dezembro. Mas não é fácil. Como não sou cristã envergonhada, não “pico o ponto só nos eventos sociais, nem encho a boca só para parafrasear o Papa Francisco, a minha fasquia é como a romaria do norte. Elevada. No compromisso e na atitude.
À semelhança dos dois últimos anos vamos, novamente, encerrar este com limitações na partilha dos convívios e afectos.
Mas a humanidade poderia estar, indubitavelmente, mais descontraída caso fosse mais solidária com os países pobres. O equilíbrio entre o eu e o nós não foi encontrado. Os países mais ricos continuam a desvalorizar a necessidade de vacinar aqueles que quase nada têm como estratégia de protecção de todos. A título meramente exemplificativo, dir-se-á que enquanto a Europa avança para a terceira dose, há países que nem a primeira tomaram. Chama-se à primeira europa civilizada, certo? Estranho conceito.
Um dos episódios mais propalado na vida de Cristo é conhecido como “a multiplicação dos pães”. Como narra a Bíblia, a multidão que escutava Cristo perante a falta de comida questiona-O. Cristo responde lançando-lhes um desafio “dai-lhe vós de comer”. Desorientados, sem saber que fazer, eis que surge, finalmente, um rapazito que responde que tem meia dúzia de pães e peixes. Ora bem. Porquê, na figura de um miúdo a resposta ao desafio? Porque “os catraios da história são sempre os pequenos” ou como se diz em Moçambique “o povo de enxada curta”. O milagre não é multiplicar mas sim dividir. Não há multiplicação. Há que dividir para multiplicar. Ora bem, que tal “os povos grandes” dividirem as vacinas com “os pequenos”, com “os povos de enxada curta?”
Os meus parcos conhecimentos bíblicos foram obtidos pela mão dos Missionários Capuchinhos que me habituaram a interpretações bíblicas muito para além da letra, muito aquém de conhecimentos históricos e linguísticos que não possuo, mas imperativamente necessários para saber “ler os evangelhos” e adaptá-los aos dias de hoje. Só assim se justifica ler a Bíblia. Tornando-a vida. Ou melhor, vivendo-a. Penso que é isto que faz o Papa Francisco.
Que o Menino-Jesus continue a ajudar-vos a fazer contas de dividir!