A última crónica aqui publicada intitulava-se “Do azeite (“abrantino”) e das estratégias pífias”. A questão da estratégia não foi desenvolvida, em detrimento de uma abordagem mais diversa sobre a fileira oleícola.
Mas porquê designar como estratégia pífia o que se passa na fileira oleícola em Abrantes e particularmente o entendimento que a Câmara tem tido sobre a valorização deste recurso endógeno?
Sobre Abrantes (território! Não a cidade em si,…) não se tenha qualquer dúvida é uma potência no domínio do azeite. No entanto, ninguém, em Abrantes, sabe isso, como referimos na última crónica, ou tem orgulho nisso.
Quando vemos territórios, sem a expressão que o território de Abrantes tem na fileira oleícola, desenvolverem uma poderosa imagem territorial à volta do azeite não podemos deixar de nos perguntar o que é que se passa no nosso território.
É bom ter presente que no Médio Tejo, na Lezíria do Tejo ou mesmo na Região das Beiras, não existe nenhum território com a história, a capacidade e o potencial da região de Abrantes no que toca ao azeite!
E se assim é, quais são as causas que contribuem para que um território com capacidade para ser uma grande potência na fileira oleícola e dar cartas no mundo do azeite em Portugal não passe de uma potência anã?
Se olharmos o que se passa com o chamado Encontro Ibérico do Azeite e as circunstâncias em que este deixou de se realizar, talvez nos aproximemos de uma explicação razoável para compreender a situação.
Olhando a promoção do “Encontro” facilmente se percebia que a sua realização, apesar de surgir como uma iniciativa do Município, era sobretudo financiada com fundos públicos -os vulgares subsídios (como acontece, aliás, com muito bom evento que se realiza em Portugal, e nada de mal advém daí,…).
Quando o evento deixa de se realizar pressupõe-se que foi porque se acabaram os subsídios. E é aqui que está um dos aspectos pífios da estratégia abrantina sobre a fileira oleícola. A Câmara nunca podia ter feito depender de subsidiação pública a realização de um evento que pretendia valorizar um dos mais importantes (senão mesmo o mais importante, dos recursos endógenos do território).
Não consta que alguma vez a Câmara tenha suspendido a realização das Festas da Cidade ou a Feira Nacional de Doçaria Tradicional (que são apostas estratégicas do Município em eventos que não constituem um recurso endógeno com potencial de desenvolvimento do território).
A não-aposta em transformar o território de Abrantes numa potência da fileira oleícola constitui um enorme erro estratégico. Que impunha uma reflexão a diferentes níveis dos principais agentes com influência do desenho de políticas para Abrantes. Mas estes, nunca o fizeram! Nem talvez venham a fazer! Porquê?
Bom presumo que por não serem capazes! Ou por andarem distraídos! Ou porque passam o tempo a olhar para o umbigo! Em vez de perceberem que um território se se quer afirmar como um território central, não pode desprezar os seus recursos endógenos mais competitivos, como é neste caso e para o território abrantino, a fileira do azeite.
Os erros cometidos no passado vão, no entanto, levar décadas a rectificar.
A fileira oleícola espera por uma estratégia que recoloque o território abrantino no lugar em que devia estar no mundo dos azeites em Portugal: a boca de cena e não os fundos do palco.