A cidadania e o direito que lhe está associado foi o mais desprezado dos valores societários pela evolução do sistema político português na era democrática.
Esta situação tem gerado revolta entre muitas pessoas. E é, por seguro, a principal causa para os portugueses terem tão má opinião da política e sobretudo dos políticos.
O tempo que vivemos é do ponto de vista da cidadania um tempo de revolta. Mesmo que muitas vezes a expressão que dá corpo a essa rebelião seja a indiferença e o desprezo face a pessoas e instituições que corporizam, num espaço ou numa instituição essa recusa em aceitar a cidadania como uma consequência da vida em Democracia.
As palavras acima são uma espécie de introito para expressar a minha tristeza com o falecido do Henrique Falcão Estrada (para os da minha geração “o Estrada”) ocorrida em finais do ano passado.
O Henrique (vou tratá-lo assim, por que me parece neste contexto a forma mais adequada) era, penso que a maioria dos abrantinos sabe, a alma e a pena do blogue “Cidadãos por Abrantes”, um veículo de intervenção cívica que ele e outras pessoas (?) criaram para intervir nas questões abrantinas ou divulgar pontos de vista sobre acontecimentos e personalidades abrantinas por quem poucos abrantinos se interessam na actualidade.
Não sou um leitor assíduo do blogue. Mas como este me aparece, de forma quase sistemática, quando faço pesquisas no Google sobre temas abrantinos, foi seu leitor um número de vezes suficientes para achar que podia ter uma opinião sobre o mesmo.
Vi e li no blogue “Cidadãos por Abrantes” coisas muito interessantes sobre Abrantes e os abrantinos. E, de certa maneira, às vezes o Henrique (se fosse ele?...) me surpreendia. Onde é que tais coisas foram desenterradas! Perguntei-me amiúde.
Numa sociedade aberta e não intolerante muitas das “investigações” do blogue “Cidadãos por Abrantes” mereciam ser trabalhadas e continuadas. Tanto quanto é do meu conhecimento (e pode não ser!) ninguém, nem nenhuma instituição atingiu, na análise das questões abrantinas (algumas do passado e outras do presente) o nível e a qualidade que está presente no blogue “Cidadãos por Abrantes”.
Naturalmente que muitos dos meus leitores podem pensar o contrário (eu sei que é assim que pensam muitos dos meus amigos abrantinos). Muitos criticam o estilo truculento de algumas peças do blogue; outros a falta de cortesia na abordagem de algumas celeumas; muitos a excessiva defesa do blogue de um certo tempo e duma certa Abrantes.
Se, porém, olharmos o blogue “Cidadãos por Abrantes” como um motor da intervenção cívica resultante da anulação da cidadania, temos obrigatoriamente de ser tolerantes com o seu estilo; por que, na realidade, muitas vezes, não há outro modo de reagir face às prepotências e magnitude das acções do sistema político em relação aos cidadãos.
O blogue “Cidadãos por Abrantes” merece o meu respeito (mesmo que nem sempre esteja de acordo com o que aí se escreve ou defende) pelo modo como foi capaz de lançar um novo olhar sobre muitos aspectos da vida abrantina. E ao Henrique (o meu amigo “Estrada”) eu deixo aqui uma palavra de apreço e de respeito, pelo que ele foi capaz de fazer e pelo modo como criou uma linha de pensamento sobre a cidade. Controversa?
É claro que sim: mas não foi com base nesse princípio que a geração do Henrique foi educada?