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19 FEV 2022
OPINIÃO | "Um grande telescópio, a mais de um milhão de quilómetros da Terra!", por Máximo Ferreira
Por Jornal Abarca

É verdade que, nos últimos dias do mês passado, um grande telescópio alcançou uma posição do espaço, a uma distância da Terra quatro vezes maior do que aquela que, permanentemente, nos separa da Lua! Se fosse possível vê-lo a partir da Terra, um observador poderia estranhar o facto de ele girar em torno da tal posição, descrevendo voltas perpendiculares à linha imaginária que liga os centros do Sol e da Terra ao ponto (L2) em torno do qual o telescópio já está a “rodar”. Em rigor, um hipotético observador terrestre não veria um telescópio com espelho de tamanho próximo de seis metros e meio, mas sim uma espécie de vela retangular, de dimensões idênticas às de um campo de ténis e… com uns painéis solares nas “costas”, ou seja, voltados para nós. Então, e o telescópio? Foi preciso escondê-lo do Sol e, por isso, ele está “no outro lado”, voltado para os confins do Universo, protegido do calor solar, dado que a sua missão não é apanhar luz visível (como acontece com a maioria dos telescópios) mas sim pequenos sinais de “calor” resultantes da lenta formação de estrelas. Daí que a tal “vela” sirva para que ele – o telescópio – seja mantido a uma temperatura muito baixa (mais negativa do que 200 graus abaixo de zero), arrefecimento esse que já começou a ser efetuado.

Só pensar nas exigências científicas e técnicas que envolvem a sua estabilidade e (futuro) funcionamento, fará o acontecimento parecer obra de ficção científica. No entanto, é natural que o cidadão comum tenha dificuldade em acreditar que tal feito resultou de trabalho intenso – e muito bem coordenado – de centenas de físicos, matemáticos e engenheiros e operários de formações diversas (muitos deles fisicamente separados por milhares de quilómetros) a trocarem conhecimentos e opiniões entre si, a produzirem componentes em diferentes centros de investigação e a fazerem reunir tudo no derradeiro local de montagem global. Depois, foi o alojar todos os componentes no interior do foguetão de lançamento, com o rigor indispensável para que, no momento certo e à ordem de sinais enviados da Terra, tudo se fosse “desembrulhando” e preparando para a entrada em funcionamento.

Poucos minutos depois do lançamento (a 25 de dezembro), estavam consumidas as largas toneladas de combustível que alimentaria os motores principais, pelo que, sendo desnecessário e prejudicial o seu peso, todo o primeiro andar do foguetão foi deixado cair no mar. Quando, a 4 de janeiro, foi aberto o escudo solar (a “vela” com cerca de 30 metros), já outra parte do foguetão se havia separado e tinham sido abertos os painéis solares e a antena de comunicação. Três dias depois começou a abertura do leque de espelhos, primeiramente o “espelho secundário” e, depois, o “primário”, sendo este constituído por 18 “pequenos” espelhos, em forma hexagonal, com mais de um metro de tamanho cada um, e que, muito lentamente, se desdobraram para se alinharem de modo a constituírem o verdadeiro “coração” do telescópio.

A 24 de janeiro, o JWST (abreviaturas da designação inglesa de Telescópio Espacial James Webb) ou, como já se tornou usual, o Webb, alcançou a região onde se situa o ponto L2 (um dos 5 pontos estabelecidos pelo matemático francês Lagrange), onde o efeito da gravidade do Sol e da Terra é praticamente nulo, em torno do qual – e após uma pirueta ordenada da Terra - já gira muito lentamente, executando uma volta em cada seis meses, sempre acima, à esquerda, abaixo ou à direita da Terra, para que a “sombra” do nosso planeta não impeça a radiação solar de alcançar os painéis cuja missão é produzir energia elétrica a partir da luz do Sol.

Os próximos quatro meses serão dedicados a afinações na qualidade das imagens produzidas pelos equipamentos a partir de observações de objetos distantes (como nebulosas, estrelas e galáxias), no funcionamento de todos os instrumentos científicos e… preparar tudo para que, depois, comece a ser recebida nos laboratórios de investigação, em terra, uma enorme quantidade de dados científicos que, por muito tempo, manterão ocupados milhares de investigadores em todo o mundo, satisfazendo curiosidades, esclarecendo dúvidas, acumulando conhecimentos e, naturalmente, criando novos desafios.

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