Por vezes faço o exercício de perguntar a mim próprio qual foi, na minha opinião, a maior descoberta da história humana. Gosto de fazer esta pergunta com algum espaçamento temporal pois novas aprendizagens conduzem a novas ideias. Contudo, mesmo eu que sou um ávido curioso por história, continuo a chegar sempre à mesma resposta: a descoberta da refinação do petróleo. O petróleo já nos era conhecido há centenas, se não milhares de anos. Contudo, era uma substância particularmente desinteressante para as pessoas, em geral, já que libertava um cheiro nauseabundo e a sua consistência era pouco agradável ao toque e olhar.
É possível que a revolução industrial e, posteriormente, as várias revoluções que se seguiram - eléctrica, mobilidade, electrónica ou agrícola - tivessem perdido ímpeto ou nem sequer tivessem existido sem o ouro negro. O petróleo é o pai e a mãe da sociedade como a conhecemos. E porque é uma energia tão “barata”, quando considerado o seu potencial energético, permitiu a criação de uma sociedade e economia baseada nos baixos custos de produção, conforto material, luxo, abundância e desperdício como nunca existiu na história.
Porém, os dias do petróleo, mas também do gás e do carvão estão a chegar ao fim e devem naturalmente chegar ao fim. Para bem da existência da vida humana como a conhecemos neste planeta, temos de parar de queimar combustíveis fósseis ou qualquer outra fonte energética que implique alterações climáticas. Contudo, neste processo de descarbonização, a cura, através da transição para energias renováveis, será dolorosa e irá provocar, se não provoca já, a revolta e indignação de muitos de nós. A realidade é simples: para se progredir rumo a um modelo energético baseado em fontes renováveis e amigas do ambiente (e do ser humano), será necessário encarecer artificialmente o custo do petróleo para viabilizar o interesse em investir em energias renováveis ou tecnologias alternativas e, assim, com a massificação da produção, conseguir finalmente baixar os preços. Até lá, esta transição energética vem acompanhada de um efeito secundário de que poucos querem ouvir falar: inflação.
A energia é a base do nosso modelo económico. Se aumentarmos o preço da energia de forma semelhante àquela que está a acontecer hoje, o encarecimento do custo de vida será inevitável durante um período significativo de tempo. Ainda assim, importa lembrar duas coisas. Primeiro, é preferível pagar o custo da inflação do que pagar o bem mais gravoso e irreversível custo das alterações climáticas. Segundo, historicamente, as matérias-primas energéticas sempre foram caras. No entanto, a elevada eficiência energética do petróleo levou-nos a acreditar na ilusão de que a energia deve ser barata. No fundo, deve ser, mas a que custo? Em resultado disso, construímos, economias, sociedades e estilos de vida que refletem essa ilusão. Mas tudo isso terá de mudar ou arriscamo-nos a uma adaptação bem mais dolorosa.