É certo que à primavera, estação do ano que todos os anos se repete, poderemos juntar outras “primaveras”, de modo mais ou menos metafórico associado, por exemplo, à «nova» vida que se nos depara após o fim da pandemia, a um novo futuro após obter um emprego certo ou uma ligação familiar ou mesmo a propósitos de assumir uma nova postura perante a vida. Na verdade, da estação do ano que começará no dia 20 deste mês, não temos dúvidas e é grande a esperança de que também seja certa a segunda, a «nova» vida após o fim da pandemia. Quanto às outras, caberá a cada um(a) definir quantas quiser e … contribuir empenhadamente para que se concretizem.

Neste mês de março, o Centro Ciência Viva de Constância completará 18 anos (com a designação atual, pois o espaço havia iniciado funções quatro anos antes), ou “dezoito primaveras” (como também é comum dizer-se), estando já planeados projetos que – se correrem bem – acabarão por constituir um interessante ramalhete de “primaveras”: no dia 19 (sábado e dia de aniversário) o Centro Ciência Viva realizará atividades extraordinárias que começarão com a entrada em funcionamento de uma moderna cúpula de abrigo do “grande telescópio”, o qual, depois de um já longo período ao serviço da divulgação científica, contribuiu recentemente para o sucesso de dois trabalhos de investigação internacional, um sobre a atmosfera de Tritão (uma lua de Neptuno) e outro sobre a forma de um grande asteroide que passou na frente de uma estrela cuja variação de brilho foi registada em diversos pontos da Terra, nomeadamente em Constância. No dia seguinte – domingo, 20, primeiro dia de primavera – a manhã será dedicada a um percurso ao longo do Lago Arquimedes e, depois, por cerca de um quilómetro da floresta envolvente do Centro; crianças e adultos terão oportunidade de contemplar insetos, flores, plantas e árvores, e observar alguns pormenores através de lupas e microscópios, em permanente conversa com a guia. À tarde, o Centro Ciência Viva começará outra “primavera”, iniciando atividades públicas num espaço que se pretende venha a ser um Museu/Espaço de Memória e Inovação. Se esta “primavera” correr bem, os espaços onde outrora eram elaborados os produtos de uma grande quinta agrícola – azeite, vinho e cereais – serão recuperados e colocados à disposição de visitantes que, na época própria, poderão comparar lagares de azeite antigos e modernos e ver como estes últimos transformam azeitonas em azeite e participarem mesmo em ações de medição de densidades, volumes e acidez.

No penúltimo dia do mês, comemorar-se-á o centenário da partida de Gago Coutinho e de Sacadura Cabral para a aventura de atravessar o Atlântico Sul, de Lisboa ao Rio de Janeiro, sendo um dos objetivos demonstrar ser possível realizar “longas” viagens aéreas com rigor semelhante àquele que já existia na navegação marítima. O Centro Ciência Viva de Constância passará então a apresentar uma sessão de planetário (Os céus de Gago Coutinho e Sacadura Cabral), na qual se apresentarão não só alguns comentários sobre episódios da viagem bem como do céu observável em cada noite, nos locais situados cada vez mais a sul, como Las Palmas, Cabo Verde, Penedos, Recife e Rio de Janeiro.

Mas, mesmo antes de começar a verdadeira primavera, uma outra já está em curso e que envolve cada vez mais o entusiasmo de jovens estudantes na realização de atividades disponibilizadas e orientadas pela equipa do Centro Ciência Viva. Depois de um “bloco” dedicado aos robôs (de complexidade adequada às respetivas idades) está em curso um outro que promove curiosidades e, espera-se, aprendizagens, sobre a produção e uso de energia elétrica obtida de fenómenos relacionados com o Sol: por que há luz e calor durante o dia? Como, da luz do Sol, se pode obter energia elétrica? O que faz haver vento? Ou como o vento pode gerar energia elétrica, são questões exploradas nas conversas prévias a que os próprios responderão depois, quando tiverem oportunidade de participar no estabelecimento de ligações com fios, lâmpadas e pequenos motores, percebendo como é fácil alimentar um televisor ou fazer andar um brinquedo.

Assim se cumprirá, pensa-se, a convicção de que iniciativas e programas adequados promoverão uma maior capacitação das pessoas para, a partir de tenra idade, sentirem vontade de dominar dúvidas, concretizar propósitos e … planear as suas “primaveras”.