Em Novembro de 2021 escrevi, entusiasticamente, sobre o novo canal que entrava nas nossas casas. Ingenuidade acreditar que vinha aí um jornalismo assente em factos, só factos, nada mais que factos.

Alinhando com a “mãe TVI”, a CNN nada acrescentou aos canais existentes na praça da comunicação. Até o dia da inauguração não surpreendeu: uma festa no formato TVI e como cabeça de cartaz a entrevista a João Rendeiro. Senti-me defraudada pois escrevi que nesse dia se fazia história. Contudo, tragicamente, na pretérita quinta-feira- 24 de Fevereiro de 2022 – a Rússia encarregou-se de reescrever a História.

Há 24h que acompanhamos uma guerra que, politicamente, não sendo nossa, também o é (ainda que no Afeganistão e Iraque tivessem morrido muitos soldados americanos a Europa não os chorou).

Há 24h que o ocidente amaldiçoa Putin.

Há 24h que percebemos que o mundo mudou.

Costumo dizer que há pessoas que fisicamente, reflectem, imediatamente, a sua personalidade. Putin é um deles. Aliás, todos os ditadores, imperialistas, o que lhes queiram chamar, têm sempre fisionomias muito sui generis. Repare-se que Putin com 69 anos não tem um cabelo branco, carrega botox que se farta, gosta de exibir-se em tronco nu e de preferência a cavalo, tem um sorriso traiçoeiro e um olhar de doninha. Do conjunto resulta o vilão.

O vilão é o canalha, o vil, o pulha. E como vil que é, assim nos trata a todos. Nós, os europeus, pobres coitados, que só nos tolerou até ao presente porque respeitava a Senhora Merkel. Esperou a sua saída e avançou. A Europa perdeu, efectivamente, uma voz de comando por muito que Macron se esforce.

O mundo mudou mas a nossa velha Europa continua lenta na resposta. A ausência de líderes que tanto reclamamos sente-se mais do que nunca. O vilão invadiu a Ucrânia, mata militares e civis, porque sabe que europeus e americanos não são pulhas como ele. Falta-lhes ousadia e estão reduzidos às medidas “paninhos quentes”.

Continuamos brandos, muitos brandos. E perante o segundo pacote de sanções anunciado hoje, dia 25 de Fevereiro, e o anúncio de um terceiro, a resposta do dito é “aguardamos que os ucranianos deponham as armas” e chama-lhes “um bando de toxicodependentes nazis”.

Hoje pela primeira vez um Papa visitou a embaixada russa no Vaticano.

Nós continuamos com “paninhos quentes”.

A Ucrânia continua a ser humilhada e destruída.

O canalha continua a assistir “de camarote e a bater palmas”.