Sem pretender ser arauto da má nova ou profeta da desgraça, Portugal tem sido assolado por vagas de desgraças que o aproximam do Egito, pelo menos no que a flagelos se refere.
Da troica à covid e, seguidamente, às eleições, e, só depois, porque pelos vistos para os dirigentes e pessoas que divulgam e fazem circular as informações muito menos importante, apesar de vital, a seca extrema.
Para os mais esquecidos, de 2011 a 2014, tivemos no nosso país a troica, ou seja, uma comissão, estrangeira , liderada por três elementos (daí o nome que advém da palavra russa troika – carruagem ou trenó puxado por três cavalos) representando a Comissão Europeia, o FMI e o BCE para, por um lado, avaliar a verdadeira contabilidade do país, pois, aparentemente, não tivemos líderes capazes em competência e ou honestidade para o fazer e, por outro lado, para definir um conjunto de regras, leia-se leis e imposições, que orientariam, governariam, as finanças e as necessidades de funcionamento do nosso país. Já seria suficientemente mau para nós, enquanto portugueses, existir a necessidade de uma comissão deste género, nos termos em que foi feita e com a avaliação de estrangeiros foi simplesmente uma humilhação com uma cereja no topo que foi a sucessiva avaliação dos ratings (notação financeira) a atirar-nos para níveis abaixo da classificação lixo. Mutatis mutandis, era como se o seu vizinho lhe entrasse em casa e começasse a avaliar a sua despensa, pronunciando-se acerca dos produtos em armazenamento, porque lhe emprestara dinheiro, e, depois, seguisse até ao frigorífico e ainda avaliasse o mobiliário, entre outros, a carteira, e, como estavam em causa novos empréstimos, fosse ao cúmulo de lhe elaborar uma lista de compras para o supermercado, as horas de duração da sua permanência com a luz acesa, entre outras despesas, encaradas ou julgadas como reais e necessárias ou supérfluas. Atestaria a sua incompetência e ou a das suas finanças familiares, passar-lhe-ia um atestado de incapacidade e bateria com a porta deixando regras impostas.
E como não há mal que venha só, seguiu-se a segunda praga. Esta não foi seletiva e assolou o mundo inteiro o que, para nós, com uma economia frágil e dependente do estrangeiro, foi ainda mais penoso. Voltados para o turismo e a restauração, os sapatos de qualidade, a gastronomia, os vinhos… fomos penalizados na nossa economia duplamente. Não só as pessoas estavam impedidas ou muito limitadas nas viagens e deslocações em geral, como também, se as economias estão em baixo, quer seja ao nível individual, quer seja ao nível nacional, gasta-se menos no que é entendido como supérfluo, ou seja, por exemplo, em viagens e respetivas despesas. Esta praga, pelos vistos, vai terminar por decreto. Já largamente foi anunciado que em Portugal daqui a cerca de um mês a covid passa a ser endémica. Ora, em janeiro passado, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) divulgou que a UE caminha, devido à variante Ómicron, para a fase endémica, mas que estamos claramente numa fase pandémica. Já falar em não usar sempre máscara é inconsciente e em retirar a proteção que damos aos menos protegidos, com menos defesas (idosos, pessoas com outras patologias, imunossuprimidos…), é simplesmente irresponsável e criminoso. A fase endémica para breve seria excelente, se já fosse verdadeira. Numa sociedade justa, a democracia não pode ser só uma palavra, os direitos dos mais desprotegidos (e entenda-se que quem pensa que por ter pouca idade e não ter doenças não é atingido, se calhar, quem mais ama talvez seja os seus pais idosos ou um filho com problemas de saúde, que se incluem precisamente nesse grupo dos mais frágeis) não podem ser esquecidos e só porque não dá jeito usar máscara, só porque não me apetece e não é bom para o negócio. Seja consciente, cuide do outro e exija que o outro também o proteja a si. A máscara é o mínimo que cada um pode fazer para garantir a segurança do outro. Incómodo? Sim, claro. E a consciência de salvar ou matar outrem não tem peso? Daqui a um breve tempo, somos capazes de ouvir, na sequência do que tem sido divulgado, que a pandemia terminou. Só falta por decreto estipularem o dia e a hora da chegada da fase endémica, vir um político, ou um burocrata-marioneta por ele mandado, garanti-lo no seu pipito será a próxima tragicomédia.
Como não há duas sem três, diz o povo, o orçamento não se aprovou, por caturrice de um partido que sobe ao poder não por maioria, mas por coligação, e dos dois que lhe deram acesso à cadeira do poder. Uns porque aqui d’el rei que eles é que mandam, outros porque não nos ouvem, não assinamos, e venham as eleições legislativas. Paga o estado, os portugueses, isto é, quem trabalha e desconta e paga o que é mal ou pior gerido. 1,7 milhões de euros só para papel, impressão e envio de boletins de voto para residentes no estrangeiro. Voto antecipado – 700 mil euros. Partidos com assento parlamentar – cerca de 7,3 milhões de euros em campanha eleitoral. Comparando com as legislativas de 2019, PS, BE, CDU e CDS-PP, juntos, poupam dois milhões de euros face às anteriores eleições. PSD aumentou cerca de 88 mil euros e também o PAN, IL, Livre e Chega aumentam os gastos em campanha. Este último, caricaturalmente, teve em gastos uma quantia que passa de 25 mil euros para meio milhão de euros. Coisa pouca, para um país com as nossas necessidades…
Eleições terminadas, o português acorda, abre os olhos, dissipa-se a névoa do obscurantismo e já Vésper brilha quando vê o óbvio: este ano não choveu! Já temos seca extrema e em agosto teremos hecatombe. Sou uma trabalhadora que, como muitos, sai de casa ainda de noite e entra já de noite. O trabalho ao fim de semana continua a ocupar o meu horário, as tarefas como mulher típica portuguesa de classe média exigem tempo e esforço, como tal, raramente saio e a minha mente anda constantemente ocupada. Contudo, não foi preciso passarmos as eleições e vir uma notícia num jornal ou na televisão em horário nobre para olhar e ver. Observar um rio que alimenta as torneiras de inúmeros lares das famílias portuguesas com um caudal que deixa a descoberto os viveiros de bivalves, uma água que recuou na vertical largos metros num rio com caudal minguado cujas paredes do leito se veem secas e revelam a nu a verdade crua da seca.
Assim, estaremos agora com a equivalente à quarta praga do Egito, ou contei mal? Faltarão seis? Recordo que a capital mais próxima de Lisboa não é Madrid, mas Rabat, em Marrocos. Se calhar, temos mais afinidades do que julgamos com os africanos. Pense.