SOS, saio, vou à rua, não tenho cigarros. E sem eles, fica muito mais difícil aguentar este ciclone. Além disso, apanho ar, a lufada de brisa que preciso. Tenho de sair desta vertigem que não deixa pedra sobre pedra, o remoinho de imagens e memórias de ansiedade salivada e dissolvida por quanto haja de veias e neurónios. Dois anos de contágios, uivos de ambulâncias, máquinas de tubos azuis encaracolados nas bocas em coma; estatísticas, gráficos, uma Europa fechada, deserta, recolhida a penates,
E agora, isto, ISTO! O tal 3.º cavaleiro cadavérico que dizem ser apocalíptico, que até deixa o diabo na fila do desemprego. Era o que faltava! Não me interessam os dogmas de dentes farpados que pretendem justificar este tipo cíclico de furacão – limito-me a perguntar o que sei não ter resposta: Guerra?Outra vez? E na Europa? Esquecendo Napoleão e só nos dois últimos séculos, tivemos a “nossa” guerra civil ou liberal (1832-1834); a franco-prussiana (1870); duas guerras mundiais (1914-1918; 1939-1944), a guerra civil espanhola (1936-1939); a invasão da Hungria (1956) da Checoslováquia (1968); o muro de Berlim (1961-1989); os ataques da NATO à Sérvia (1999), deixando no arquivo morto, a Guerra Civil dos EUA, Vietname. Coreia, Camboja, Iraque, Árabes e Israelitas, Repete-se o filme? Pelos vistos sim. Mas para pior. Agora é MM - Mato e Mostro ou Mostro como se Mata,no momento, em direto, sem pausas nem anúncios. De meia em meia hora, a realidade de uma hecatombe; mísseis, explosões, tudo destruído, arrasado; gritos, lágrimas, pavor; chamas e rolos de fumo negro; cinzas, ferros retorcidos; gente desfeita, moribunda, agonizante, morta, quase 3 milhões de refugiados. Não, não é documentário nem filme a concorrer para os Óscares – é realidade. Pura e sangrenta de Lineu. Salta-me da net, BBC, CNN, France 2, Deutsche Welle, Le Monde 1e sei lá de onde mais. E as centenas, milhares de pequenos olhos espantados, confusos, profundamente tristes, doridos, macilentos, sem compreender o que os pais e famílias lhes dizem. E muito menos o que os espera. Sim,Crianças. As eternas vítimas, a que nem a UNICEF nem a Cruz Vermelha podem chegar. São a sobremesa favorita de quem manda ou é malabarista de fronteiras. Um senhor paradoxo - quem agora ocupa o poder por este mundo fora, é todo eficiente, chique, espacial, da geração que enviou cápsulas espaciais, Sputnik e satélites; pisou a Lua; espreitou Vénus, Marte, Júpiter e Saturno; telemóveis 4G, 5G; projeção quântica; 80 anos, em média, de boa vida garantida; progresso e bem-estar sustentado; reis e senhores do social, politica e poli-sexualmente correto; cuidam carinhosamente do meio ambiente, de proteger escorpiões, pinguins, caracóis e piolhos, tudo o que esteja em vias de extinção. Mas a Criança não o é? Ou vamos imitar novamente a avestruz de bico enfiado na areia? Ao ser, mais uma vez, órfã, apátrida, alugada, vendida, exilada, refugiada? Sem casa, nem eira, muito menos com beira? E ainda por cima, a precisar de vacinas contra as covids que voltaram à carga? Ou seja, um caos ungido pelo que haja de mais barbuda e radicalmente ortodoxo.
Mas desculpem, resmungo e divago. Com estas e outras, volto onde comecei – onde fica o raio da tabacaria? Mudou de lugar? Faliu e fechou? Tenho que tentar um posto de gasolina. Sem dar por isso, troquei-me as voltas, vim parar a uma meio avenida de prédios altos, condomínios de classe média, está na cara. E ao vê-los, por um décimo de segundo, acreditem ou não, ouço-me perguntar, - Estes ainda não foram destruídos?Juro. Foi assim mesmo. A mola instantânea do subconsciente, inundado de fachadas esburacadas, putinizadas, e visceradas, crateras de crateras, formigueiros em terra abrasada, queimada, estorricada. Mas a realidade corrige logo, Não, estes não foram destruídos. Ainda não. Mas nunca se sabe…
Bom, gira, girou, chega, muda o disco. O leitor tem direito a um sorriso e não mais do mesmo pelos olhos e ouvidos. Seja. Nada como voltar a 2002, Washington - compartilhei então com um colega, a necessidade vital de bom humor real. Trocámos recortes de jornais e revistas. E aqui está, melhor não há - cópia de um relatório doUnited States Department of Education,relativo a algumas escolas do 6th grade (12 a 15 anos), como exemplos dos maus níveis de aprendizagem de História. Como se pode ler das respostas de alunos a testes escritos, parece que “de pequenos lapsos na escola, se chega ao grande tropeço de gerações”.14 Fragmentos do relatório de 2001:
1. “O antigo Egito foi habitado por múmias que viviam no deserto. O clima era tão mau que tiveram de ir viver para outro lado”;
2.“Moisés foi ao Monte Cianeto (nota – possivelmente queria dizer Sinai) para apanhar o fax com os 10 Mandamentos e saber onde ficava a tal terra prometida e de bons empregos mas foi apanhado pelos serviços de emigração e morreu antes de chegar ao Canadá”(nota: possivelmente queria dizer, Canaã);
3.“Sócrates foi um grego que andava pelas ruas com uma toga, a criticar políticos, poucos gostavam dele. Chateou-se, tomou uma overdose e depois de morrer, nunca mais conseguiu publicar nada, nem ser eleito”;
4. “Júlio César morreu no meio de uma festa no Senado de Roma. Mas ainda cumprimentou o filho: - Então Bruto até tu vieste à festa?”;
5. “A Rainha Isabel da Inglaterra foi um sucesso porque era virgem e hoje em dia até há cantoras de rock que estão a tentar o mesmo mas ainda não conseguiram;”
6. “Bach foi um alemão com muitos filhos e como a mulher estava sempre na maternidade, começou a compor música para pagar as contas. Mas nunca formou conjunto porque era perito em Fugas”;
7. “A Invencível Armada foram navegadores espanhóis que fizeram a primeira corrida de barcos à vela da Inglaterra para os Estados Unidos mas o navio que ia na frente bateu num iceberg e afundou-se, e os outros fugiram. O nome do primeiro barco era Titanic”;
8. “Francis Bacon foi um grande cientista, achava que o homem devia sempre dominar a natureza. Mas esse foi o seu problema – dizem ter sido meio vegetariano e o nome de família, não o ajudava muito”; (Nota: Bacon=Toucinho).
9. “Napoleão foi importante porque inventou o conhaque e ia com os amigos ver as guerras ao fim de semana. Passava a vida com a mão no colete porque tinha borbulhas na barriga, por andar muito a cavalo. Depois divorciou-se e foi para a ilha de Santa Helena viver da reforma”;
10.“Shakespeare escreveu peças de teatro para a filha que se chamava Julieta que gostava muito do Romeu. O pai quis casá-la com o Otelo que era mais rico ou então o Hamlet, filho de rei, mas tontinho da cabeça, fácil de controlar. Como a Julieta não quis, o Otelo matou a Julieta e depois, o Romeu mas não conseguiu apanhar o Hamlet que ainda hoje anda sozinho pelos corredores a pensar se deve ou não ser. Mas não sabe muito bem o quê”;
11.“Benjamim Franklin escreveu o texto para o filme “Declaração de Independência” e morreu quando levou a descarga de um gerador que tinha em casa. Continua morto”;
12. “Beethoven escreveu muito boa música apesar de ser muito surdo e não ter ganho qualquer MTV. Mas achava que os homens eram todos irmãos e o Presidente Kennedy e Martin Luther King concordaram logo com ele, mas não se sabe se lhe deram parabéns”;
13. “Lincoln foi o maior Presidente dos Estados Unidos até hoje. Mas tinha sempre muita pena de não se lembrar de ter nascido”;
14,“Pessoas mesmo célebres são a) Pasteur que descobriu o leite em garrafas seladas e tudo; b) Darwin que descobriu que o macaco era parecido com o homem; c) A Senhora Curie que foi a primeira a ouvir rádio enquanto lavava provetas no laboratório; e d) Karl Marx porque foi o irmão mais engraçado dos filmes dos Irmãos Marx.”
E haveria mais. Mas tropeções de gerações há muitos. E sem fronteiras. Por mim, presumindo que o leitor sorriu, fiz o que podia para melhorar o astral. Porque do coração, cabeça e nervos, fica por sua conta.
PS. Ah sim, encontrei cigarros. Mas por favor, NÃO FUME. Acho que o Putin, Xi Jinping e o Biden não fumam. E vejam no que deram.