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20 ABR 2022
OPINIÃO | "Guerras, sentimentos, propagandas e amor à verdade...", por António Carvalho
Por Jornal Abarca

Sempre pensei que Putin não mandaria invadir a Ucrânia. A situação trouxe-me à memória uma crise semelhante, mas muito mais grave nos anos 60. Cheguei mesmo, já nos primeiros dias de guerra, a afirmar que a guerra já desencadeada não era das piores... Parece que, mais uma vez, escandalizei alguns amigos (e amigas, evidentemente...) o que me leva, em nome dessa amizade, a tentar justificar esta minha perspectiva.

A Segunda Guerra Mundial acabou logo após o lançamento das duas bombas atómicas, em 1945, pelos Estados Unidos. A União Soviética rompeu com os EUA, lançou-se no desenvolvimento da sua tecnologia nuclear e, em 1949, fez o seu primeiro teste com uma bomba atómica.

No início dos anos 60, os líderes dos dois países eram John Kennedy (EUA) e Nikita Kruschev(URSS). Em 1959, tinha acontecido a Revolução Cubana, de Fidel Castroe Che Guevara.

Em 1961, Fidel Castro aderiu ao marxismo-leninismo, aproximou Cuba da União Soviética e os soviéticos viram uma oportunidade para estabelecerem bases de mísseis nucleares perto dos Estados Unidos.

No mesmo ano, Cuba sofreu uma tentativa contra-revolucionária por parte de cubanos exilados nos EUA, treinados pela CIA. Nessa acção, a invasão da Baía dos Porcos, os contra-revolucionários foram derrotados e Cuba cedeu espaço no seu território para a instalação de mísseis soviéticos.

A base de mísseis nucleares foi descoberta pelas Forças Armadas dos EUA, em Outubro de 1962 por aviões-espiões. Após a descoberta, o presidente John Kennedy optou por estabelecer um bloqueio a Cuba, em vez de a atacar e, ao mesmo tempo, procurou negociar com Nikita Kruschev. A principal contra-partida para a retirada dos mísseis de Cuba era a de que os EUA se comprometessem a não dar mais apoio a qualquer tentativa de invasão do território cubano. No dia 27 de outubro, um dos aviões-espiões foi abatido pela artilharia antiaérea cubana, tendo o piloto morrido. Esse foi o dia em que a Crise dos Mísseis esteve na iminência de se transformar num “apocalipse nuclear”. No dia 28 de outubro, mais uma condição foi imposta pela URSS aos EUA: além do compromisso de não atacar Cuba os americanos deveriam também retirar mísseis balísticos nucleares da Turquia. O acordo foi selado e a URSS comprometeu-se a desactivar e retirar seus mísseis de Cuba. O que aconteceu.

Foi isto que recordei e me levou a pensar que Putin tem todo o direito de não querer, como Kruschev, misseis da NATO, perto da Rússia. Infelizmente Biden não é Kennedy e não se coíbe de chamar “criminoso de guerra” a Putin. Se o Eixo tivesse ganho a segunda grande guerra quantos americanos não teriam sido julgados e condenados?

Putin não pode é exercer o direito que tem de garantir a segurança dos Russos para escaqueirar um país e causar tremendo sofrimento a quem, julgo eu, mal ainda não fez ao seu povo.

A invasão da Ucrânia pela Rússia acontece lá longe. Somos o país europeu mais afastado da guerra. Dependemos das televisões e dos jornais para irmos formando a nossa opinião e justificando as nossas simpatias e antipatias pelos  beligerantes. Mais concretamente, dependemos da informação que os jornalistas e os comentadores nos fornecem mas também da propaganda dos dirigentes russos e ucranianos que a comunicação social vai filtrando e difundindo. Devemos por isso tomar consciência de que estamos a ser influenciados por discursos antagónicos. Parece-me algo exagerada a onda de simpatia pelos ucranianos.

Há em todas as comunidades pessoas boas e pessoas más, pessoas pacíficas e pessoas violentas, pombas e falcões. Para mal dos nossos pecados, os falcões têm mais probabilidades de alcançarem lugares de chefia.

É lamentável que estejamos constantemente a tomar a parte pelo todo, “as loiras são falsas”, “os suiços são pontuais”, “os alentejanos são vagarosos”, “os russos são maus”, “as russas são boas”...

Nem todos os que fogem da guerra serão boas pessoas e o mesmo poderemos dizer de quem, em Portugal, vai forçosamente lidar com elas.

Que eu me engane e tudo corra pelo melhor.

Pela Verdade, a Bem da Nação, Unidos Venceremos.

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