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20 ABR 2022
OPINIÃO | "A Luta", por Humberto Lopes
Por Jornal Abarca

A luta do dia a dia, a luta pela vida, a luta pelo poder, a luta que, momento a momento, está presente na vida do Homem (substantivo comum de dois).

Assim que o Homem nasce, vindo de um ambiente que lhe é favorável, entra num ambiente hostil e, a partir desse momento, inicia a luta pela vida que se manterá até que o “espírito” se liberte da matéria e esta volte ao Universo de onde proveio.

Digamos que a luta é inerente à existência humana, podendo acrescentar que é inerente também a todos os seres vivos sobre a Terra. Todos lutam pela vida.

O Homem é um ser dominador. Cada um procura lutar com os outros e ganhar a luta para atingir os seus objectivos.

Esta luta que, em princípio, deveria ser pacífica, torna-se, muitas vezes, em luta violenta, muito violenta, com riscos para a existência do Homem sobre a Terra. Mas Caim matou Abel por ciúmes e, a partir daí, a luta violenta passou a ser parte na vida sobre a Terra.

Apesar de se dizer que o Homem é o ser mais inteligente sobre a Terra, é este mesmo Homem que, em pleno séc. XXI, ainda usa essa inteligência para atingir objectivos através da luta violenta – a Guerra.

Ao entrarmos neste século era suposto que, na Terra, já se tivesse adquirido o estado de Paz Mundial e que o Homem, apesar da sua luta diária pela vida, nunca mais procurasse a guerra para satisfazer os seus objectivos de dominador – ditador.

Mas, infelizmente, andávamos todos iludidos e a guerra do Homem contra o Homem voltou.

As causas não têm qualquer interesse, pois não passam de desculpas para justificar os acontecimentos que todos os dias nos entram pela casa a dentro, quer em imagens, quer em palavras faladas e escritas.

Mas as consequências, estas sim, têm o maior interesse, pois podem ser, nada mais nada menos, do que a destruição de toda a vida, humana e não humana, sobre o planeta Terra. A inteligência humana que mal conhece o Universo que habitamos, desenvolve e pode aplicar com eficácia os instrumentos de guerra que vai produzindo.

Como ex-combatente (agora antigo combatente!) na guerra do ultramar, guerra das colónias, guerra de libertação, como lhe queiram chamar, conheci os horrores que ela provoca, a loucura a que pode conduzir, o desprezo pela vida humana, a despersonalização do Homem que passa a ser mais uma máquina de guerra, programado que foi para ela.

O combatente mata para não ser morto!

Mas a guerra não produz só mortos e feridos.

Também já vivi o calvário de ter de abandonar todos os bens materiais que possuía para fugir de uma guerra fratricida. Fugir em último recurso, sem ninguém que me esperasse, sem qualquer poder de decidir ir para ali ou para acolá, aceitar aquilo que me era oferecido para continuar a viver.

Chegar a um país onde não queria viver, ser hostilizado pelos autóctones, ser acusado de todos os malefícios que teria causado ao país de onde fugi, ser recebido como indesejável, como um pária da sociedade que vinha “roubar” o emprego aos que cá estavam, marcou-me para o resto da minha vida e marcou todos aqueles, foram centenas de milhar que, tal como eu, tiveram que deixar o que tinham para salvar a vida.

É o que vemos agora, neste séc. XXI, em plena Europa – guerra, destruição de bens e de vidas, fugas das populações que tudo deixam para continuarem a viver noutros países, com outras culturas, sabem lá até quando, ou se alguma vez poderão voltar para refazer as sua vidas na sua terra, no seu país, seja ele de nascimento, seja de adopção!

Quando chegará o tempo em que a inteligência humana servirá apenas para a criação de condições de vida digna para todos os Homens?

Quando chegará o tempo dos Direitos Humanos serem respeitados por todos?

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