Durante todo o mês de abril de 1922, o Oceano Atlântico foi “casa” de dois personagens muito especiais. Saídos de Lisboa a 30 de março, numa frágil aeronave, Gago Coutinho e Sacadura Cabral iniciavam então a aventura de atravessar o “Atlântico Sul” – em condições muito menos apoiadas por navios do que iniciativas anteriores que haviam permitido a travessia do “Atlântico Norte” - com o propósito de demonstrar ser possível realizar longas viagens aéreas com o mesmo rigor com que se navegava por mar.
Certamente, seriam admitidos alguns contratempos – resultantes de não haver um completo conhecimento de comportamentos e consumos da aeronave, bem como caraterísticas de relevo e condições atmosféricas em locais por onde se teria de passar - para os quais a tradicional capacidade de resolver imprevistos era tida em conta para que os objetivos fossem alcançados. Depois de, no mesmo dia da partida de Lisboa, o hidroavião (que seria batizado com o nome de Lusitânia) ter descido nas águas do porto artificial de La Luz – Grã-Canária, os primeiros dias de abril são passados em pequenas reparações e procura de local apropriado para voltar a levantar voo em direção a São Vicente de Cabo Verde, onde chegaria ao quinto dia do mês.
Mais beneficiações do Lusitânia e contratempos de vento forte e mar agitado adiam a partida para um ponto mais a sul e mais próximo do objetivo seguinte, os Penedos de S. Pedro e S. Paulo, já relativamente perto da costa do Brasil, onde – se o combustível chegasse para o percurso – seriam esperados pelos navios República e 5 de Outubro.
Poucos minutos antes das 4 da madrugada de 17 de abril, a aeronave eleva-se das águas de São Vicente e, cerca de duas horas depois, amara no Porto da Praia (Ilha de Santiago). Logo na madrugada seguinte, o Lusitânia lança os dois corajosos marinheiros/aviadores na mais dura etapa da aventura. Há preocupações sérias quanto ao consumo de combustível, dado ter-se verificado ser superior ao anunciado pelo construtor, mas há confiança de que o “horizonte artificial” concebido por Gago Coutinho para o seu sextante, permitirá rigor na determinação do “ponto” (coordenadas dos locais por onde vão navegando) para – após cerca de 12 horas contínuas de voo – se encontrarem com os dois navios que aguardavam, nas proximidades dos Penedos.
Às 17:15 o hidroavião desce no mar, algo agitado. “Não devíamos ter mais de 2 ou 3 litros de gasolina no tanque!”, escreveria Sacadura Cabral no seu Relatório. Só que, a agitação do mar fez quebrar um dos flutuadores e o avião afundou-se, havendo ainda tempo para que tripulantes, livros, sextante, cronómetro e outros instrumentos fossem salvos pela tripulação do República.
Seguiram-se contactos com o Governo de Lisboa, foi enviado outro hidroavião (desembarcado a 6 de maio) que viria a avariar e, também ele, a afundar-se, sendo substituído por outro que, finalmente, completaria a viagem que contribuiria não só para prestígio nacional como também para a confiança de pilotos, em métodos ajustados à navegação rigorosa no ar, a qual, durante algumas décadas, assentaria – em todo o mundo - no recurso (horizonte artificial) concebido e aplicado por Gago Coutinho ao seu sextante.
O Centro Ciência Viva de Constância associa-se às iniciativas da Marinha e da Força Aérea, concebendo e apresentando, no dia 4 de abril, uma sessão de planetário – Os céus de Gago Coutinho e Sacadura Cabral – e recebendo, em data a anunciar, uma exposição itinerante evocativa, elaborada pelos citados ramos das Forças Armadas. Na sessão de planetário - que ficará no programa até final do ano – serão simulados aspetos do céu do início da noite anterior à partida e os detalhes mais importantes, à medida que decorria o mês de abril e se viajava mais para sul, até cruzar o equador, em particular a diminuição da altura da Estrela Polar e o aparecimento do Cruzeiro do Sul e das Nuvens de Magalhães.