A Polónia tem sido um dos países europeus mais activos no apoio à Ucrânia. Fruto da proximidade geográfica e cultural entre a Polónia e a Ucrânia e de um sentimento periclitante de que a Rússia e os seus exércitos estão já ali ao lado, Varsória tem sido incansável na sua solidariedade com Kiev, no seu apoio aos refugiados ucranianos bem como num apelo persistente aos seus pares europeus e norte-americanos para não descansarem enquanto a Rússia não for contida e derrotada.
O apoio do governo polaco aos refugiados ucranianos tem sido surpreendente tendo em conta que, ainda há alguns meses, Varsóvia mandou erguer barreiras na fronteira com a Bielorússia para impedir a entrada de migrantes e refugiados provenientes do Médio Oriente. Agora, em poucas semanas, a Polónia deu abrigo a mais de dois milhões de refugiados, maioritariamente mulheres e crianças, sendo que perto de 160 mil não são ucranianos e, curiosamente, incluem pessoas provenientes do Médio Oriente.
O governo polaco deu a cada refugiado um visto, extensível, de 18 meses para permanecerem e trabalharem na Polónia. Cada refugiado tem acesso gratuito ao serviço nacional de saúde, está isento do pagamento nos transportes públicos e foi entregue um subsídio mensal a cada criança de 120€, o mesmo que é dado às crianças polacas. Subitamente, a Polónia tornou-se no quarto país do mundo com a maior população de refugiados. E isso trás os seus desafios. A Polónia não tem os recursos financeiros para apoiar e acomodar todas estas pessoas por um período prolongado de tempo. E fruto da instabilidade económica e do efeito-ricochete das sanções, a economia polaca já mostra sinais de abrandamento. Isso trará dificuldades económicas e desemprego. Se a Europa, conjuntamente, não apoiar a Polónia com os meios necessários, o país poderá confrontar-se brevemente com hostilidades sociais e xenofobia nacionalista à presença ucraniana no país, e apoiar soluções governativas cada vez menos democráticas. Este cenário apenas agudizará a situação de um país dirigido por um governo autocrático, que em meses recentes marcou a actualidade por um constante desrespeito pelas normas mais fundamentais da pertença à União Europeia.
Varsóvia poderá ter alterado a sua política e estar a usar os refugiados como arma política para simplesmente colocar pressão sobre a Comissão Europeia para esquecer os processos de Bruxelas contra Varsóvia no Tribunal Europeu de Justiça, e libertar os fundos comunitários que até agora estavam congelados. Talvez. Mas até lá, estas pessoas precisam de ajuda. Sem ela, aquilo que é um problema polaco será certamente um problema europeu.