As organizações culturais Materiais Diversos, Pó de Vir a Ser e Culturgest juntaram-se para criar o projecto “Dentes de Leão”. Numa lógica de procura de um território diferenciado encontraram no Sardoal o lugar ideal.
Elisabete Paiva (Materiais Diversos), Mariana Passos (Pó de Vir a Ser) e Raquel Ribeiro dos Santos (Culturgest) são as co-directoras do projecto “Dentes de Leão” que emerge no âmbito das artes participativas, “investe na população jovem de Sardoal, Évora e Lisboa, e em jovens artistas dos distritos de Santarém e de Évora e da Islândia” e que “promove a articulação dos recursos culturais, patrimoniais e humanos destes territórios, através de processos criativos colaborativos, formativos e reflexivos, tendo em vista a sua valorização e sustentabilidade”.
“Dentes de Leão”, explica Raquel Ribeiro dos Santos “surge de um entendimento comum de estruturas diferentes e geografias distintas do que pode ser o trabalho com os outros - artistas, públicos, mediadoras e agentes culturais”. Esse entendimento comum que as três partilham “sobre a relação que o programador tem nesse trabalho de tecelagem juntou-nos neste projecto que tem múltiplas facetas”. Destacam como elementos diferenciadores do projecto “o trabalho com artistas locais, com os jovens que se juntam à margem da lógica escolar, e o que nos une é a convicção de que os projectos de artes participativas podem ser um meio para nos encontrarmos através da produção e da criação artística”, salienta Raquel.
O nome “Dentes de Leão”, provém “da ideia de ligar pintas”, explica Mariana Passos em alusão ao programa financiador Connecting Dots, que traduzido vai ao encontro da ideia apresentada: “O dente de leão é uma planta que ninguém precisa propriamente de semear. Aquilo que podemos colaborar com os dentes de leão é no gesto de soprar, mas também têm a sua autonomia mesmo que não exista ninguém para os soprar: vem uma pequena ventania e aquelas sementes todas são espalhadas pelo terreno. Que pode ser mais ou menos convidativo para as plantas, mas o dente de leão é tão resiliente que consegue florescer”, elucida. Uma metáfora que Elisabete Paiva corrobora: “Representa o trabalho que fazemos com cada jovem, cada artista, cada membro de equipa e mediadora. Todos somos um dente de leão. É uma planta simples mas extremamente inspiradora”.
O Sardoal como lugar ideal para uma “intervenção real e continuada”
O projecto une os territórios de Sardoal, Lisboa e Évora. Elisabete Paiva, da Materiais Diversos, é a principal responsável pela escolha do município ribatejano para integrar o projecto: “A Materiais Diversos tem concentrado a sua actividade maioritariamente em Alcanena e Cartaxo, mas este projecto procurava um território de baixa densidade e nenhum desses concelhos se enquadrava”, começa por explicar. “O Sardoal surge porque, em 2016, desenhei juntamente com o Luís Ferreira um projecto de programação em rede para a CIMT e tive oportunidade de conhecer os treze municípios da região, os seus executivos, quase todas estas pessoas e lugares”. Assim, “pensando num quadro da nossa capacidade de intervenção real para contribuir para uma lógica de continuidade, porque não nos interessa uma intervenção pop-up, pareceu-nos que o Sardoal cumpria imensos critérios. Para além da questão da baixa densidade populacional, tem uma política cultural continuada, uma territorialidade específica - até em contraponto com Lisboa e Évora -, uma organização concentrada que permitia um trabalho de proximidade e, desse modo, reunia uma série de características a nível político, geográfico e cultural que poderiam ser mais valias para o projecto”.
Apresentação dos projectos no final de 2022
O balanço do trabalho realizado até ao momento, em residências e laboratórios, é entusiasmante. Elisabete Paiva acredita que “havia uma grande vontade de responder ao enorme desafio que é trabalhar com jovens, de conferir visibilidade às suas vozes, às suas sensibilidades, de uma forma devidamente cuidada, para que o que é ser jovem nestes diferentes lugares pudesse emergir. Esse é o desafio central das artes participativas com estes jovens”. Trabalhar com população jovem “não é mais desafiante no Sardoal por ser mais pequeno, isolado ou periférico”, frisa, mas “confrontar as várias realidades” é um dos objectos de trabalho do “Dentes de Leão”.
A apresentação dos projectos junto das comunidades vai “seguramente acontecer” estando prevista uma primeira jornada para Outubro em Évora e ainda em 2022 no Sardoal: “Esperemos que as pessoas sintam curiosidade de conhecer as propostas destes grupos”. Raquel Ribeiro dos Santos sublinha que “há uma permanente preocupação de devolver à terra o que lá está, independentemente da nossa passagem”. Nesta lógica de continuidade o importante é “criar raízes”.