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20 JUN 2022
OPINIÃO | "A indústria dos bailes nas escolas secundárias", por Ana Teixeira
Por Jornal Abarca

Nestes últimos dias de Maio, a malta dos 9.º e 12.º anos vive intensamente os bailes de finalistas que se aproximam. Percebo o entusiasmo dos mais velhos. Quanto aos do 9.º, não resisto perguntar: finalistas de???. Porém, se recuar no tempo, aumenta a minha perplexidade ao olhar os meninos do pré–escolar e 1.º ciclo com cartolas de cartolina à semelhança das universidades americanas. Da imitação ao ridículo não há distância.

Este formato de baile americano demonstra algo que se instalou na nossa sociedade e que os jovens consentem, talvez porque é mais fácil aceitar do que questionar. Percebi, também, ao falar com jovens do 12.º ano, que há empresas que tratam de tudo. Fantástico! Desde a venda de hamburguer e bar aberto durante toda a noite, direito a acompanhamento de enfermeiro, vá-se lá saber porquê, enfim, está criada mais uma indústria: a dos bailaricos nas escolas secundárias.

Espanta-me a reprodução de comportamentos nos jovens substituindo a sua criatividade pela compra de um pacote que ressuscita um conceito de baile desajustado ao tempo e à nossa cultura, com vestidos de meninas a fazer pendant com gravatas dos meninos.  

Hoje não se cria. Copia-se. Pensava eu que “a juventude tem um fundo desejo de ser autêntica. Ser autêntico, viver de acordo com o que se pensa até às últimas consequências é difícil mas tem um grande prémio. Porque é autêntica a juventude detesta as uniformizações e ama a liberdade”.

Fui revisitar esta frase a um dos maiores parlamentares deste país, militante de um partido recentemente “desaparecido” na nossa Casa da Democracia e que já não se encontra entre nós. Quando nesta casa existiam parlamentares com discursos/diálogos sagazes, densos, interessantes, inteligentes e correctos mesmo quando corrosivos. Ora bem, é aqui que bate. Ainda hoje escutei um extracto do debate parlamentar, no qual, como tantas outras vezes, um deputado ultrapassa o urbanismo, a civilidade, cavalgando um tom e uma linguagem rude, impolida, desrespeitosa que, maioritariamente, assenta em imprecisões e mentiras.

Gosto muito de biografias e em 2010 comprei a de Adelino Amaro da Costa. Porquê? Por ter sido um parlamentar brilhante. Aliás, realce-se que na época a fasquia na Assembleia da República era muito elevada. Presentemente, assistimos, amiudamente, a episódios verdadeiramente confrangedores com protagonistas que nos envergonham diariamente.

Nunca votei no CDS. Mas admiro quem sabe pensar, sabe falar e sabe respeitar. Dizia-se até que era “um prazer ser contradito por ele”.

Não sei se voltamos a ter parlamentares - da esquerda à direita - como havia antigamente, mas o tecido parlamentar não me tranquiliza.

Quase ia esquecendo um pormenor que o não é. O preço destes jantares. Há jovens que os pais não podem pagar. Como não ocorre aos colegas que compraram o pacote, terem adquirido um mais baratinho acessível a todas as carteiras? Não se sentem incomodados que o critério económico exclua colegas? Solidariedade, não? Companheirismo, não? Amizade, não? Igualdade nas oportunidades, não? Estes bailinhos uniformizados não conjugam com liberdade.

Terminando com o tema que aqui me trouxe – a indústria dos bailes nas escolas secundárias – deixo-vos com mais uma frase da referida biografia “A juventude não é instalada. A juventude não tem tempo enquanto é isso - juventude-, para se aburguesar”Adelino Amaro da Costa, in artigo na revista Rumo, Janeiro de 1960.

Estes bailinhos estão ou não, aburguesados?

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