É sabido que o mês de junho contém o momento astronómico que designamos por solstício, termo que poderia ser comparado com “sol estacionário”. Na verdade, embora o solstício não ocorra sempre à mesma “hora” e pode mesmo acontecer a 21 de junho (como este ano e no próximo) ou a 20 (como será em 2024), é sempre por esta ocasião que o Sol alcança a maior altura possível, ao meio dia solar de cada lugar e deixa de nascer progressivamente mais para norte do ponto cardeal Este, como vinha acontecendo desde o início da Primavera. Naturalmente, a partir do momento do solstício, o nascimento do Sol vai ocorrendo em pontos do horizonte em cada dia mais próximos de Este, a sua altura máxima (ao meio dia solar) vai sendo menor e, simultaneamente, os dias (o tempo de permanência do Sol acima do horizonte) vão diminuindo, enquanto, pelo contrário, a duração das noites aumentará até ao outro solstício, em dezembro.
Quanto ao aspeto do céu, a seguir ao pôr do Sol, ele repetir-se-á todos os anos, fazendo com que se tornem visíveis as “constelações de verão” (como Escorpião, Sagitário e Ofiúco, que surgem a Sudeste) enquanto outras, observáveis (há um ou dois meses) a Oeste, vão sendo “apanhadas” pelo Sol que, colocando-se na sua frente, faz com que deixem de se avistar. Era a observação desse facto que permitia aos nossos antepassados de há dois ou três mil anos, perceberem em que datas o Sol se colocava na frente de tal ou tal constelação. Por este e muitos outros antigos conhecimentos, se afirma, frequentemente, que a Astronomia é a mais antiga das ciências por ter proporcionado a observação sistemática e a compreensão de que muitos fenómenos astronómicos se repetiam, embora em alguns aspetos não conseguissem decifrar as razões por que aconteciam.
Assim, poderá sustentar-se que a vida dos humanos na superfície terrestre esteve sempre ligada ao céu e ao que nele acontecia, e foi “lá” que colocaram muitas expressões de circunstâncias da vida quotidiana, como objetos e seres que conheciam e outros que imaginavam, deuses e heróis de bom e mau comportamento, incluindo aqueles que, de vez em quando, lançavam as suas fúrias na forma de chuvas violentas, vendavais, relâmpagos e trovões. No céu, a vida decorria com sobressaltos idênticos aos se viviam “cá em baixo”. Até os grupos de estrelas com que imaginavam figuras no firmamento – as constelações – tinham caraterísticas notáveis: o Escorpião – animal terrível que atacou o gigante, Orionte até lhe causar a morte – foi levado, por Zeus, para a região do céu em que o vemos, tendo aquela divindade ressuscitado Orionte, colocando-o numa posição da esfera celeste tal que um nunca poderá ver o outro. Por isso, quando o Escorpião surge a Este já Orionte se escondeu, a Oeste. Mesmo assim, o Escorpião ficou sempre sob a vigilância de Sagitário, que o segue, equipado de arco e flecha, disposto a atuar se o terrível animal se dispuser a repetir atos de violência. Sobre os dois, Ofiúco (a décima terceira constelação por onde o Sol passa, entre 30 de novembro e 16 de dezembro) – o lendário médico, Esculápio, que ensinou medicina a Hipócrates - segura a serpente que passaria a fazer parte do símbolo universal da medicina: um bastão com duas serpentes entrelaçadas.
Esta região do céu passará a fazer parte das descrições que – nas observações de todos os sábados à noite – o Centro Ciência Viva de Constância (CCVC) fará do céu observável à vista desarmada, antes de para lá se apontarem telescópios que mostrarão objetos celestes (enxames de estrelas e nebulosas) fora do alcance da visão humana. As histórias e lendas diversas associadas às constelações, em épocas diferentes e em locais distintos do planeta, constituem verdadeiros patrimónios com os quais, certamente, continuaremos a viver enquanto existir vida na Terra.
No entanto, neste mês de junho, o CCVC lançará o projeto - já experimentado algumas vezes - de realizar percursos mais ou menos longos, por terra ou descendo o rio Zêzere em canoas ou ainda incluindo as duas modalidades. Com o objetivo de convidar a olhar para patrimónios terrenos, a iniciativa de 18 de junho vai levar os participantes para as proximidades da “saída” da barragem de Castelo do Bode. Pouco depois da partida haverá uma paragem junto à foz do Nabão para evocar a época em que por ali se chegava a Tomar e os vestígios do que se julga serem restos de um estaleiro naval Templário. Depois, nova paragem para aludir às termas de águas férreas que seriam frequentadas por el rei D. Sebastião e, finalmente, a chegada ao Jardim-Horto de Camões para recordar a convicção de que o poeta por ali andou há mais de 450 anos!