O mundo está a desglobalizar-se. Ao contrário daquilo que foi a realidade nos últimos trinta anos, entramos agora numa época onde nos iremos deparar com um mundo menos interligado, onde os Estados recuperam o seu poder e soberania e optam por investir em soluções locais ou nacionais em detrimento da atracção de agentes económicos estrangeiros. Com esta tendência, muitas instituições e tratados internacionais que moderaram as relações entre Estados na Era da globalização, bem como a liberdade de circulação de capitais, bens e pessoas poderão perder parte da relevância que assumiram até agora. A amplitude desta mudança de paradigma será global. Por outras palavras, a desglobalização significa que os países já não confiam na arquitectura internacional para garantir a sua segurança e estabilidade. Por isso, num cenário de escassez, muitas economias, por agora temporariamente devido às circunstâncias provocadas pelo conflito na Ucrânia, estão a optar por proibir as exportações de produtos vitais para as suas economias. Por exemplo, a Indonésia proibiu a exportação de carvão e a Índia a exportação de trigo. Estas são medidas circunstanciais que resultam de adaptação a curto prazo ao contexto que envolve a economia internacional.
Mas para muitos países, em particular na Europa e América do Norte, o regresso de muitas indústrias ao seu país de origem é já uma realidade. Estes países preferem ter custos de produção mais elevados mas beneficiar da protecção e estabilidade económica dos seus países originais. Por outro lado, países fortemente dependentes da globalização, com economias assentes num modelo exportador, como a Alemanha, China ou Singapura terão dificuldades e serão obrigadas a reconfigurar o seu modelo económico de crescimento.
Ao mesmo tempo, a desglobalização acarreta uma redução dos fluxos de capital na economia internacional e, por consequência, a diminuição do investimento estrangeiro. Países fortemente dependentes do investimento estrangeiro encontrarão dificuldades para reorganizar as suas economias, como é o caso das economias do sul e leste asiático ou mesmo em África.
Num plano mais geral, há várias consequências já presentes na nossa realidade ou que poderão consumar-se como possíveis a prazo: uma redução prolongada das perspectivas de crescimento económico, aumento do nacionalismo e proteccionismo económicos, secundarização do papel da instituições internacionais, mais intervenção do Estado na economia, redução dos fluxos globais de comércio e concentração das trocas comerciais entre blocos económicos, como é o caso da União Europeia e aumento do risco de conflitos etno-nacionalistas devido à redução da integração e interdependência económica a nível mundial como factor de contenção de conflitos.