A década de 1980 foi marcada pela chamada crise de dívidas da América Latina. Devido ao cenário de elevada inflação que se verificava na economia norte americana, a Reserva Federal norte americana decidiu subir a taxas de juro para conter a subida dos preços. Este agravamento do custo do dinheiro levou muitas economias latino-americanas a não conseguirem cumprir os pagamentos da sua dívida externa, em dólares, e a mergulharem num período de caos económico que se prolongou por mais de uma década. Tudo começou com a moratória mexicana, logo no início dos anos 80 e, em pouco tempo, quase todo o continente caiu na armadilha da dívida. Aquela que deveria ter sido uma lição histórica para todo o mundo poderá voltar a repetir-se, desta vez um pouco por todo o mundo. Com a guerra na Ucrânia, a subida da inflação conduziu a um contexto internacional bastante agressivo. E, para piorar a situação, a Reserva Federal norte-americana voltou a subir os juros, provocando o encarecimento do dólar nos mercados internacionais de dívida. No centro da tempestade financeira estão as economias emergentes.
Em Abril, as Nações Unidas referiam que 69 países se encontravam numa situação de grande vulnerabilidade económica devido a três factores: aumento dos custos da energia, aumento dos custos dos produtos agrícolas e deterioração da sua capacidade financeira. Dentro deste grupo de países, 19 estão na América Latina, 25 em África e outros na região Ásia-Pacífico. Com os recentes tumultos verificados no Sri Lanka, teme-se agora que este país insular da Ásia Meridional seja apenas a primeira peça do dominó a cair e que muitos outros lhe seguirão.
Para além do Sri Lanka, a Rússia, o Líbano, o Suriname e a Zâmbia já estão em incumprimento do pagamento da sua dívida externa. E a Bielorrússia para lá caminha. Na Ásia, a situação mais preocupante é certamente a do Paquistão que se encontra numa situação gravosa devido ao aumento do preço da energia.
Em África a situação é idêntica. Países como a Tunísia, o Egipto, o Quénia e o Gana apresentam elevados níveis de endividamento face às suas reservas monetárias. Só o Quénia gasta anualmente 30% das receitas fiscais recolhidas pelo Estado em juros da dívida. Quando questionados sobre as consequências deste elevado endividamento e de um efeito dominó no aumento de países a falharem os prazos de pagamento da sua dívida, muitos economistas manifestam pouca preocupação, já que estes países têm pouca relevância nos mercados de capitais. Contudo, uma mente mais aberta compreenderá os riscos acrescidos da disseminação da miséria nestes países: risco da imigração ilegal em massa, tráfico de seres humanos, conflitos internos e guerras civis, aumento da criminalidade, da economia paralela, surgimento de movimentos radicais ou mesmo terroristas ou o fortalecimento do poder de grupos paramilitares ou máfias nesses países.