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20 SET 2022
EDITORIAL | "Contadores de Histórias", por Margarida Trincão
Por Jornal Abarca

É por demais sabido que a imprensa está em crise, situação que se arrasta há largos anos. E os que mais sofrem são os jornais regionais e locais, o que também não constitui novidade para ninguém. Aliás, há coisas de que só se percebe a verdadeira importância quando acaba. E aí “oh da guarda”.

Os jornais regionais e locais sempre foram o parente pobre do jornalismo, visão que corresponde a um enraizado provincianismo citadino e macrocéfalo que classifica 2/3 deste pequeno rectângulo em interior. Chega a ser ridículo, mas assim é para quem do país conhece o Algarve e os aeroportos.

Sempre me indignou que nas comitivas de profissionais dos media que sempre acompanham os governantes e figuras importantes nas suas deslocações à “província” que, depois das declarações sobre o motivo da visita – habitualmente repletas de vacuidade -, as perguntas recaiam sobre assunto nacionais. Não que os assuntos nacionais se restrinjam à Assembleia da República, mas a região onde se encontram, seja ela qual for, tem as suas particularidades e, por consequência, o que se discute em São Bento tem reflexos diferentes em Trás-os-Montes ou no Alentejo.

Numa coisa os jornais ditos nacionais e os regionais e locais se debatem com os mesmos problemas: o “trabalho” que dar ler e folhear e a facilidade de carregar num botão, ouvir e ver imagens em cima do acontecimento.

No entanto, e pondo a tónica na imprensa regional e local, os jornais de “província”, esses que são feitos por escribas parcamente remunerados, são um garante da democracia, sobretudo quando muitas das autarquias são formadas por maiorias absolutas.

Recentemente, a revista Harvard Business Review (Julho-Agosto 2022) publicou um estudo, feito nos Estados Unidos, sobre os efeitos do fecho da imprensa local no crime corporativo tendo conseguido mostrar que as regiões com menos imprensa local ficam sujeitas a níveis mais elevados de corrupção. Se o trabalho fosse feito em Portugal suponho que poderia haver semelhanças.

Sem querer pôr-me à margem, enquanto directora de abarca não me queixo. Se tentativas houve foi noutros meios de comunicação social onde trabalhei e nos quais não tinha funções directivas.

Mas há outro assunto, igualmente relacionado com a imprensa local e regional que gostaria de referir nesta primeira edição da rentrée, e que considero mais entusiasmante. A opinão é de Mark Kramer, professor em Harvard, numa visita a Lisboa: o jornalismo (escrito) poderá fazer face à crise se optar por uma forma narrativa. “Os factos são importantes. São a base, o solo onde lançamos os alicerces da nossa inteligência. Mas os leitores querem mais do que factos: querem confronto de um ser humano com eles. E o relato – literário, sim; pessoal, sim – dessa realidade primordial. Os leitores querem histórias, no sentido mais nobre do termo. Os leitores querem contadores de histórias”.

Leia as nossas histórias, os factos estão lá, em narrativa.

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