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20 SET 2022
OPINIÃO | "Hoje vou falar da família", por Alice Vieira
Por Jornal Abarca

Eu devia andar pelos meus 18 anos quando a canção apareceu. E nunca me esqueci dela. E até hoje a sei de cor, como se tivesse acabado de a ouvir agora mesmo.

Chamava-se “Dominique”, e era interpretada por uma freira belga a quem chamavam “Soeur Sourire” (Irmã Sorriso). Lembro-me de a ver em programas de televisão, — de viola ao ombro e sempre a sorrir — lembro-me de a ouvir na rádio, e lembro-me de ter um disco seu. Segundo se diz, o disco vendeu mais de três milhões de exemplares, foi candidato a dois prémios Grammy (venceu um deles), e a canção traduzida em todo o mundo (a actriz Debbie Reynolds chegou a cantá-la num filme)

A Irmã Sorriso, autora da letra e da música, queria com ela homenagear S. Domingos de Gusmão que, no século 13, fundara a Ordem dos Dominicanos, a que ela pertencia. 

É uma canção com uma música alegre, e um poema também alegre, mais ou menos assim “Dominique, nique, nique / vai andando simplesmente, / tão pobre mas cantando / e por todos os caminhos / e por todos os lugares / ele canta e fala de Deus…,” vai convertendo pessoas pelo caminho, etc, etc..

Falar de Deus a cantar — esse o tema que estava sempre subjacente em todas as suas canções.

Lembro-me sempre da Irmã Sorriso e das suas canções quando o meu querido amigo Cardeal Tolentino Mendonça me diz “todos fomos feitos para a alegria, todos fomos feitos para a Primavera”.

E lembro-me sobretudo quando estou com o meu primo Zé Luís. Padre na Chamusca, também ele pega numa viola e há mais de vinte anos que anda por aí a cantar. E toda a gente sabe as suas cantigas, e ele aproveita tudo onde possa cantar e assim passar a sua mensagem. Anda pela televisão em programas muito diferentes (até já participou em programas sobre a polícia, e noutro em que andava mascarado…), anda em tertúlias, que podem ter lugar em câmaras municipais, bibliotecas ou qualquer tasca - onde quer que haja pessoas para o ouvirem. Porque diz ele — e bem — que o lugar não tem importância nenhuma, e que não se importa de ir a qualquer lugar para onde o convidem, desde que haja pessoas com quem ele possa falar. E acrescenta sempre que as mensagens têm de ser passadas com alegria e boa disposição. Senão as pessoas não ouvem nada.

Tem alguns livros para crianças, o último dos quais se chama “O Papa é Francisco” e, quando ele está ao meu lado na Feira do Livro é sempre uma festa. E se ele se atrasa, há sempre pessoas que me perguntam “então o seu primo não vem?” E há muita gente que lá vai de propósito só para o ver e para falar com ele. É claro que ele é simpático e remata sempre “vá, comprem também um livrito aqui à minha prima, que ela precisa, coitadita” E lá vem mais risota.

E pronto, era disto que eu hoje queria aqui falar. Da alegria, que deve estar sempre presente na nossa vida.

E desculpem lá se estive a fazer publicidade à família.

Mas o meu primo merece.

O meu primo Zé Luís.

Mais conhecido por Padre Borga.

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