Hesitei, até ao último minuto, entre a utilização da primeira vogal ou a da terceira neste título. Fui branda, concluo.
Somos bombardeados, nós portugueses, povo pagante e sugado pelos governantes até aos limites do risível, com impostos que não lembrariam nem a Mefistófeles, mas lembram a estes mafarricos de trazer por casa.
Há uns anos, causaria espanto pagarmos comissão a um banco para se servir do nosso dinheiro. Nos tempos que correm, pagamos, supostamente para nos guardarem o mesmo. Voltamos, com os lucros zero que se obtêm, à opção de guardar as parcas economias debaixo do colchão, não fosse a ladroagem miúda da plebe que ainda assalta casas ao domicílio…
Por um lado, nos bens adquiridos, pagamos várias vezes impostos. Veja-se o IUC (Imposto Único Automóvel) que de único só tem mesmo o nome… depois, por exemplo, imagine-se a construção de uma casa. Em cada material, já se pagou imposto na aquisição, no transporte, mas, ao receber a fatura do construtor, claro, lá aparece, de novo, o famoso IVA que é só quase um quarto do preço. Pequenos exemplos. Grandes e contínuas despesas. O leitor lembrar-se-á de muitos mais e melhores, infelizmente.
Por outro lado, o pobre português pagante, não só paga para suportar as empresas públicas, cada vez mais raras (pois a invariável má ou péssima gestão feita pelos gestores-amigos e não pelos gestores-competentes leva à conclusão de que o estado as deve alienar, ainda que com perdas astronómicas do erário público e para o cidadão), mas também para as empresas que já não são públicas.
Erário, na Roma Antiga, era o tesouro do estado. Hoje em dia, é o que todos os trabalhadores honestos pagamos para ser gerido por poucos em proveito de alguns.
Como é óbvio, não basta ao contribuinte suportar as empresas públicas. Quando estas passam a privadas, continuando a acumular prejuízos por ações danosas de gestores regiamente pagos, continuamos a pagar, o que é um contrassenso absoluto. Imagine a seguinte situação: tinha um carro velho que dava problemas e despesas. Não queria pagar mais peças e arranjos. Resolvia deslocar-se por outros meios e vender o carro ao vizinho informado. Seria lógico, depois de vendido, continuar a pagar as despesas do veículo? Pois, com os bancos portugueses e afins é o que se passa. Chamam-lhes vários nomes a estes negócios – contrapartidas, acordos, contratos… - camuflando-se o roubo. Nos inícios, conhecidos e divulgados publicamente, desta miríade que se assemelha aos tentáculos de um polvo, esteve o divulgado caso do BPN que vai caindo no olvido e é um exemplo disso. Investimentos em carteiras com lucros a 140% para um ex-presidente que de vez em quando, qual múmia, aparece a lançar uns delírios.
Ora, concretizemos: imagine que vai ter com um amigo banqueiro e lhe entrega um milhão de euros. Daí a meses pagar-lhe-ão 140% a mais. Sabe que tal lucro é impossível e que, consequentemente, os negócios serão fraudulentos, mas o seu dinheiro e lucro estão garantidos. Recebe o seu dinheiro e elimina a conta. Depois, o banco do seu amigo abre falência e, como em Portugal, para o bem e para o mal, há a lei de que até um determinado montante o estado assume a dívida do banco para garantir a restituição das supostas economias ou poupanças de uma vida, quem paga é, mais uma vez, o erário público. Afinal, se todos recebem, incluindo quem geriu o banco, quem pagou? Como sabemos que o dinheiro não nasce, pois, claro, pagamos todos nós contribuintes para o tesouro nacional. O dinheiro dos impostos que deveria ser para investir na saúde pública, na educação pública, nas infraestruturas, na segurança, no bem-estar público… vai tapar “buracos” dos milhões desaparecidos nestas negociatas de magnatas espertalhões. Talvez faça a pergunta – como é que o tal “investidor” não perdeu também os seus milhões? Elementar, meu caro! Durante a noite deve ter tido uma epifania, um sonho revelador em que adivinhou que o banco ruiria e, evidentemente, foi cancelar a sua conta e resgatar o seu dinheiro, agora bem mais gordo e multiplicado nesta seara proveitosa para si e para os seus amigos. Ah, claro! Também porque andavam por aí a fazer umas contas e a verificar umas declarações de IRS…
Aberta a caixa de Pandora, mais e melhores negócios com novos e velhos bancos surgiram, proliferaram como cogumelos em tempo de chuva. Comparação exata, visto estes se alimentarem das ruínas dos outros.
Por último, as contingências da guerra vergonhosa, como todas as guerras, da Ucrânia que uns abutres criaram e outros fazem protelar, que tem como uma das consequências a inflação galopante que extrema, cada vez mais, o fosso entre ricos e pobres, serve de desculpa para estes pagarem cada vez mais, aprofundando as catacumbas, e para aqueles obterem lucros imorais que, caso fossem prejuízos, todos pagaríamos, como são lucros, alguns apenas recebem. Vejam-se os lucros escandalosos de grandes empresas que subiram os preços de produtos e serviços sob pretexto da guerra.
Tudo isto roça a imoralidade. Desde empresários destas grandes empresas aos governadores deste algar que compactuam e lucram com estes jogos sórdidos e corruptos. Pagar, pagamos sempre nós.